A BONITA BELÉM DE GIULIA

05/04/2011 18:08

“UMA DESCOBERTA INESQUECÍVEL”

“A cidade é impressionante”, disse a atriz Giulia Gam, nos idos de 1988, quando esteve em Belém pela primeira vez. Disse, assinou embaixo e publicou, no caderno de Turismo do Jornal do Brasil, àquela altura poderoso veículo de circulação nacional. O depoimento da atriz, ainda garota de 21 anos, mas um grande sucesso na televisão – havia sido a Jocasta jovem em “Mandala” e gravava a Luísa, de “O Primo Basílio” – foi bastante repercutido aqui. Tinha lá alguns errinhos pontuais, como você poderá ver a seguir, mas era um testemunho de felicidade em conhecer e andar pelas ruas de Belém e vizinhanças. Lembro-me que o Edwaldo Martins transcreveu quase todo o texto em sua página diária em A Província do Pará.
Mas vamos ao que escreveu a atriz (viveu a personagem Bruna, na recente “Ti-ti-ti”), na edição de 27 de janeiro de 1988 do JB:

Eu conheço um lugar
Belém
Em nossa – Fernanda Montenegro, Edson Cellulari, Jacqueline Lawrence e eu – turnê pelo Brasil com a peça Fedra estivemos em Belém por uma semana. Chegamos numa segunda-feira e, como a peça seria apresentada no Teatro da Paz apenas de quinta a domingo, houve tempo de sobra para passeios. Foi um dos lugares mais incríveis que conheci. O próprio teatro é fantástico, recentemente restaurado e muito bonito por dentro. A cortina de boca de cena tem um desenho maravilhoso e tudo foi importado na época em que foi construído. Acho que nem em Viena há um teatro tão bonito.
A cidade, no meio da floresta, é impressionante, com aquele clima úmido, amazônico: chove muito, tanto que as paredes das casas estão constantemente úmidas. Na cidade, muito bonita, sombreada por mangueiras, você sente uma força muito grande. Fiquei impressionada especialmente com o mercado de Ver-o-Peso, que é lindíssimo, com um clima mágico, um pedaço do Brasil que o progresso ainda não matou. Lá eles vendem peixes que não conhecemos no sul, como o tucunaré, ervas e raízes afrodisíacas. É gostoso ver a chegada dos peixes nas embarcações e ouvir o falar do povo.
A influência indígena é muito forte em Belém, cidade que ainda não foi invadida pelo turismo exagerado e predatório; lá tudo isso permanece com a mesma força dos rios.
Isso me marcou porque o Brasil que eu conhecia eram praticamente as praias, o litoral. É muito louco ver as coisas importadas, de alto custo, sobrevivendo no meio da floresta, coisas difíceis de encontrar mesmo na Europa, e que ainda estão conservadas em Belém.
A comida é outra coisa incrível. Há frutas estranhíssimas como o sapoti, o damasco e outras que eu conhecia apenas em livros e filmes – citadas, por exemplo, no texto da peça Macunaíma, que fiz em São Paulo. Entre as comidas, adorei um doce que se come misturado à farinha de mandioca (guardo dele o sabor, mas não o nome). Essa turnê me levou a outros lugares impressionantes, como a Chapada dos Guimarães e o Pantanal, ambos em Mato Grosso. Foram, com Belém, descobertas inesquecíveis.
Falar de um passeio pelos igarapés é falar da grandiosidade do rio e da floresta e do contato com as pessoas que vivem à beira do rio. É sentir a pureza da natureza e o Brasil em estado bruto. Acho que, para o estrangeiro, principalmente o europeu, altamente cultivado, deve ser impressionante chegar à Amazônia e confrontar-se com aquele mundo de florestas e rios. A verdade é que a gente se acha tão grande e está redondamente enganado. Em Belém, na Amazônia, descobrimos como somos pequenos em relação à Natureza. E como ela é linda.

Fonte: https://bit.ly/zWSdZn