Giulia Gam - Com Jocasta, o papel certo no momento exato

25/10/1987 20:28

Para interpretar a Jocasta jovem e idealista da primeira fase de “Mandala” – que já terminou de gravar – a italiana Giulia Gam, 20 anos não poupou esforços. Mergulhou fundo no papel e, para ficar mais parecida com Vera Fischer, que já a substitui nas gravações que correspondem aos dias atuais, até clareou os cabelos e usou lentes de contato azuis.

Ela poderia ter estreado em novelas há alguns anos – foi chamada para fazer “De quina pra lua”, “Sinhá Moça” e “O Outro”. Mas Giulia Gam acha que foi bom esperar – “Jocasta chegou no momento exato. Quando recebi o convite para o papel, senti que devia aceitar.” O fato de participar apenas de 15 capítulos a deixou mais segura e a trama de “Mandala” a encantou:

- No fim achei tudo ótimo e senti uma identificação muito grande com o trabalho, mas ainda assim estranhei o ritmo veloz da TV, apesar de o começo de uma novela ser mais lento, mais elaborado. É outra linguagem, à qual eu não estava acostumada. Mas, além disso, acho importante retomar os anos 60, mesmo que por 15 capítulos. Levantar o passado do Brasil, para mim, que tenho 20 anos, foi muito bom. Bem como viver a Jocasta com toda a garra e paixão de sua juventude. O que achei mais bonito nela foi o fato de Jocasta acreditar num mundo melhor. Aliás, foi essa a frase mais difícil de ser dita, com a fé e o idealismo da personagem: “Acredito num mundo melhor.”

Após dois meses de gravação, Giulia já deixou Jocasta e se prepara para viver a Luísa da minissérie  “Primo Basílio”, que deverá ser realizada a partir de novembro e a trará pela terceira vez ao Rio:

-Gosto daqui, mas confesso que sinto saudade do cheiro de poluição de São Paulo. Nasci em Peruggia, na Itália, por acaso, porque meus pais – o engenheiro José Carlos e a psicóloga Ana Dayse – residiram lá por um ano. Mas, na verdade, sou paulistana.

O sonho de ser atriz se realizou quando ela ingressou na Escola Macunaíma, de Antunes Filho, indicada para testes pelo amigo Marcelo Tas:

- O teatro de repertório do Antunes me levou a viajar muito, pelo Brasil e pelo exterior.

Após três anos com Antunes, Giulia substituiu Cássia Kiss no elenco de “Fedra”, em que Fernanda Montenegro vivia o papel-título, e filmou “Besame Mucho” e “No País dos Tenentes”, a ser lançado em breve:

- Como comecei a trabalhar cedo, acho que um lado meu parou nos 15 anos, me deixando carente daquela vidinha boa de tomar sorvete, sair com o namorado, viajar por lazer. Agora tenho alguma folga para corrigir isso. Mas ainda falta o namorado...

Numa determinada fase, duvidou de que estivesse no caminho certo e entrou em crise:

- Pensei se não deveria optar pela carreira de médica ou de música, que também me atraem. Mas não dá para fazer tudo e o trabalho de atriz me apaixona e me permite estudar, uma coisa que adoro. Já me enfronhei nos movimentos tenentista e comunista e há algum tempo venho estudando a tragédia grega.

Capricorniana com ascendente em Virgem, Giulia se diz tímida e tensa, mas explica que pode se modificar conforme o papel que estiver interpretando – “a gente vivencia muitas emoções através dos personagens.” As vezes, também se acha meio lerda:

- Mas hoje até fico contente com isso, porque vejo que é necessário tempo para a gente se aprimorar, é preciso ser a pessoa certa no momento certo, sentir o ciclo das coisas. Estar atento, mas nunca passivo. Apenas no eixo, pronto para reagir.

Fonte: Jornal O Globo