Giulia Gam é a nova estrela da Globo

26/10/1987 21:38

Giulia Gam, é a mais nova estrela global. Ela interpreta a Jocasta jovem de “Mandala”, novela das oito e vai ser a Luísa na minissérie “O Primo Basílio”, de Gilberto Braga, dirigida por Daniel Filho, num papel originalmente pensado para Regina Duarte. Atriz de formação teatral, Giulia foi a Julieta na versão de “Romeu e Julieta” original de Antunes Filho. Depois disso seu único trabalho em teatro foi com Fernanda Montenegro, em “Fedra”. Já participou de dois filmes: “Besame Mucho” de Francisco Ramalho e “País dos Tenentes” de João Batista de Andrade. Em comum com a sua concorrente mais próxima e sua amiga Malu Mader ela tem a idade, a beleza e o signo no horóscopo chinês, o raríssimo cavalo de fogo.

Folha – Por que você não aceitou os outros convites da Rede Globo?

Giulia – Sempre eu tinha outras opções, ou uma viagem à Europa, ou um filme. Uma vez eu topei, mas eu estava na Grécia, atrás de Peter Brook, e eu e a TV vimos que seria uma loucura. Não era esnobação, mas eu não achava que era a hora também. A TV é algo que você tem que ter uma resposta imediata, não dá pra confiar que o diretor vai te ajudar, ou que você vai ter um tempo para elaborar, ou pra maturar. Ou você acerta ou dança. Eu me sentia muito insegura de fazer um trabalho em que eu só podia contar comigo.

Folha – E por que aceitou agora?

Giulia – Primeiro por intuição. Depois, eram só quinze capítulos, dá para experimentar sem se comprometer muito. Além disso, ao contrário do resto da novela, é um texto já fechado e de época. Dá pra estudar, pesquisar, fazer algo mais parecido como processo, com o teatro. Além disso, como são os primeiros capítulos, é claro que é feito com mais tempo, com mais cuidado...

Folha – Sua aceitação teve alguma coisa a haver com o fracasso da tentativa de montar “A Conferência dos Pássaros” com o Maurice Benichou (ator de Peter Brook)?

Giulia – Não necessariamente. É claro que você estando na TV tem facilidades, contatos que não tem de outra forma. Mas eu aceitei por que uma hora tinha que ser. Mas o projeto da “Conferência” está de pé. E o projeto do coração e o contato com o Maurice continua.

Folha – Como está sendo o trabalho propriamente dito, o dia a dia?

Giulia – Principalmente em estúdio, no meio foi tudo muito assustador. É um ritmo muito violento e o ambiente é muito disperso. Eu estou acostumada em teatro a me envolver com todo o processo e na TV não pode. Como tudo é muito desorganizado, você gasta muita energia à toa. Às vezes você está pondo uma roupa que você sabe que está na continuidade errada, mas você não pode reclamar, senão você cria mais confusão ainda. Eu gastei muita energia querendo participar de tudo. E era inútil. Além disso é você que tem que se fazer respeitar. Não que as pessoas sejam ruins, ao contrário. Mas ninguém tem tempo de ver se você está bem. Ou você grita, reclama, ou ninguém percebe se você tem algum problema.

Folha – Quem te ajudou nesse processo?

Giulia – O diretor o Ricardo Waddington, talvez por ser jovem, foi muito carinhoso, atencioso, dentro dos limites dele, é claro, por que a barra dele também é muito pesada. O Carlos Augusto Strazzer, também. Eu chorei muito no ombro dele. E a Irene Black, que fez a direção de arte, me deu um puta apoio.

Folha – Por que você chorou no ombro do Strazzer?

Giulia – Falta de experiência. Eu estava usando a lente de contato, pra ficar com olhos claros, o tempo inteiro de estúdio, e é claro que não podia. Eu não sabia e fiquei super irritada, sensível. Aí ele me ajudou a ver que eu tinha que fazer minha própria infra, bota colírio, essas coisas.

Folha – Como você chegou ao Teatro?

Giulia – Desde menina, eu tinha uma certeza íntima de que ia fazer teatro. Isso é meio absurdo porque ninguém da minha família tinha nenhum contato com isso.. Aí quando eu estava na adolescência eu resolvi testar para ver se era isso mesmo. Fiz um monte de cursos pra adolescentes, essas coisas. Num deles eu conheci o Marcelo Tas. Na verdade eu cruzei com ele teste para comercial, mas nós fazíamos o mesmo curso. Aí eu peguei o comercial e ele não. Sempre foi assim, nós estamos sempre no mesmo lugar, mas não no mesmo trabalho. Foi ele que me levou pra fazer um teste no Antunes, mas logo depois ele saiu. Depois ele me levou pra fazer um estágio no OLHAR Eletrônico, quando ele já era o Ernesto Varela, mas eu trabalhei com outras pessoas.

Folha – E agora que você está na Globo, ele está nos Estados Unidos...

Giulia – Pois é, tudo de novo.

 

Fonte: Folha de São Paulo