Giulia Gam transforma mocinha ingênua em megera domada - TV Folha

24/10/1993 17:39

Antes de aceitar convite para estrela a próxima novela das 20h30, atriz tratou de garantir humor à romântica Linda Inês

Há quatro anos afastada das novelas, Giulia Gam, 26, volta em novembro para protagonizar a próxima novela das 20h30, “Fera Ferida”, de Aguinaldo Silva. Mas a atriz tomou suas precauções antes de aceitar o papel da mocinha Linda Inês. Achou a personagem original boazinha demais. “Ela podia virar uma chata”, diz.

Linda Inês, contudo, era negociável, Aguinaldo Silva havia criado a personagem para Giulia e topou reformulá-la, ouvindo as opiniões da atriz. Dias depois, ela recebeu a nova a nova versão dos primeiros capítulos, incluindo cena em que Linda Inês mata uma onça. “Ele não precisava exagerar”, brinca.

A nova Linda Inês é uma espécie de megera domada, romântica, mas com picardia. Determinada, chuta portas, dá tiros, bate e briga. Desfez-se do discurso “contra a corrupção e a favor do povo” da sinopse original e ganhou um quê de John Boy Walton: usa jeans escuros com a barra dobrada pra fora, botas, suspensório, jaleco e chapelão. A “fantasia”criada por Beth Filipecki vai ajudá-la no que considera o mais difícil em novela:  compor um personagem denso e diferenciado dela mesma.

Giulia Gam foi criada no teatro de pesquisa. Estreou em “Romeu e Julieta”, de Antunes Filho, em 1984, trabalhou com Gerald Thomas, Bia Lessa, Peter Brook. Passou pelo cinema, em filmes de João Batista de Andrade, Julio Bressane, Walter Salles Jr.. Na TV, fez há pouco os elogiados casos especiais da Terça Nobre “O Alienista” e “Lisbela e o Prisioneiro”, dirigida por Guel Arraes. Sua experiência ampla a coloca em condições de falar das especificidades da novela com notável ausência de preconceito.

“Cada veículo é um veículo. O teatro é mais artesanal: há o palco nu e o ator precisa projetar emoções, fisicamente. Na TV funciona mais o carisma pessoal.” Fica-se, também, mais à mercê da vontade do público. “A novela é uma obra aberta e o ator é o último a saber”, diz.

Ansiedade é outra marca registrada do trabalho em novelas. “A sensação é a de pilotar um Jumbo quando você só sabe pilotar um teco-teco”, compara. “Não há a vivencia do teatro. É um trabalho frio e solitário. Depois, o retorno do público vem em massa e é muito desproporcional.”

“Fera Ferida” será sua quarta experiência no gênero. Giulia atuou na primeira fase de “Mandala” (87), foi a heroína de “Que Rei Sou Eu?” (89) e fez uma participação especial em “Vamp” (91). Nesse ponto, resolveu dar um tempo da TV. “A TV faz você entrar na casa das pessoas. Você vira um eletrodoméstico. É esquizofrênico”, diz.

Os anos que passou longe da TV serviram para reconquistar a liberdade de “transitar por outros meios de expressão”. A volta foi determinada não por falta de projetos teatrais – está no elenco da primeira peça dirigida pela atriz Bete Coelho, “Pentesiléias”, com estréia prevista para janeiro de 1994 -, mas pela necessidade de estabilizar-se financeiramente, “Quando me convidaram para a novela, pensei na crise. É muito difícil você se bancar financeiramente nessa profissão. Fiz coisas muito legais, mas estava sempre tensa de não poder programar nada. Agora quero um tempo de segurança. Não posso ser uma rebelde sem causa.”

Fonte: TV Folha

Arquivo pessoal: Nuno Bragança

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