Giulia-Julieta, do colégio para o palco

25/04/1984 20:16

A atriz que Antunes Filho escolheu para fazer sua Julieta tem um nome quase igual ao do personagem – Giulia. E, como a Julieta de Shakespeare, também nasceu na Itália, embora não em Verona – ela é de Perúgia, onde o pai, o engenheiro José Carlos Gam, na época fazia um curso de belas-artes. Giulia Gam tem apenas 17 anos e pela primeira vez pisa num palco. Seu desempenho, porém, é seguro e desenvolto – exemplo de como a inesgotável linha de produção Antunes Filho é capaz de despejar continuamente novos talentos na praça. Com sua graça juvenil, sua beleza e sua atuação na peça, Giulia Gam está destinada a ser uma das atrações da temporada teatral deste ano.

Giulia é também um exemplo da dedicação com que os jovens se jogam no grupo de Antunes e do clima que passam a viver. Atualmente no 3º ano colegial, ela soube dos cursos de Antunes por uma colega e se apresentou há dois anos para um teste. Desde então, sobra cada vez menos tempo para o colégio. Hoje ela está mergulhada nos próprios cursos de Antunes, além dos ensaios e das leituras recomendadas pelo diretor – como A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, um dos clássicos da literatura zen-budista. Sua mãe, a psicóloga Daisi Gam, se surpreende: “Nem parece que minha filha faz teatro. Seu ritmo é tão sério que até parece que cursa Medicina”.

O grupo de Antunes trabalha em regime de cooperativa. Os atores dividem entre si o produto das bilheterias e com isso sobrevivem. Além da tarefa de ator, porém, há outros serviços para cada um. Os veteranos, como Salma Buzzar, de 30 anos, e com Antunes desde o início, já têm tarefas de responsabilidade, como a de tomar todas as providências quando o grupo viaja. Outros mais jovens, como Giulia, ficam com tarefas mais simples – como a de picar e colorir o papel, tirado de jornais velhos, que todo dia é despejado sobre o palco em Romeu e Julieta. Não há lugar para estrelismos, no grupo, nem tempo para muita coisa, mas Giulia acha tudo ótimo: “Estou achando tudo tão bom que nem estou me cansando”.

Fonte: Revista Veja