Linda, rebelde e talentosa

24/04/1993 19:18

Depois de quase cinco anos sem atuar em novelas, a atriz arrebata os espectadores de Fera Ferida como a heroína Linda Inês

Giulia Gam encontrou um papel ideal para sua personalidade: Linda Inês. Forte, determinada, rebelde. Nenhum outro personagem poderia ser mais parecido com ela. A jovem atriz conquistou os espectadores de Fera Ferida ao viver um inflamado romance com o vingativo alquimista Raimundo Flamel (Edson Celulari). Não poderia ter escolhido melhor oportunidade para voltar à telinha.
Giulia, 26 anos, ficou quase cinco sem dar as caras nas novelas - a última foi Que Rei Sou  Eu?, na qual viveu a criada Aline. Nesse meio tempo, recusou os insistentes convites da Globo para participar de O Dono do Mundo, De Corpo e Alma e Mulheres de Areia, além das minisséries Sorriso do Lagarto e Contos de Verão.
Apesar de ter recusado várias propostas de trabalho antes de Fera Ferida, ela garante que suas relações com a emissora de Roberto Marinho são as melhores possíveis.
- De vez em quando eles me dão um gelinho. O próprio Talma outro dia disse que não me convidaria para mais nada na emissora e que, quando eu tivesse vontade de trabalhar, o avisasse. Mas essas dificuldades são facilmente contornadas quando existe respeito profissional - contemporiza.´
Às vezes, essa atitude da atriz parece ser uma aversão ao sucesso. Mas não é. Desde ue fez sua estreia nas novelas, como a Jocasta jovem em Mandala, ela provou ter todos os ingredientes para estourar na televisão. Mas sua opção foi fazer papeis esporádicos no vídeo.
"A TV produz e desfaz mitos"
Aliás, quem conhece a simplicidade de Giulia - que começou no teatro aos 15 anos pelas mãos do diretor Antunes FIlho, como a principal personagem de Romeu e Julieta - logo percebe que ela nunca foi chegada a um pedestal.
- Eu sabia que poderia virar uma estrela depois de Jocasta. Mas foi justamente aquela popularidade toda que me fez pensar muito. Que atriz eu seria? Aquela que faz uma novela de seis em seis meses, que sai em capas de revistas, enfim, um nome nacional... Eu não queria esse rótulo e comprei a briga para me tornar uma profissional das artes. Até porque a televisão produz e desfaz mitos com a maior facilidade. Eu sou o meu trabalho - orgulha-se.
Mas admite que pagou caro pela sua independência.
- Não é fácil ser free-lancer num país e que não se tem incentivo e nem opções de trabalho. A sobrevivência vai sempre falar mais alto. Graças a Deus tive sorte! Mas não sei o dia de amanhã e nem sei até quando vou conseguir viver sem fazer concessões - diz, reflexiva.

Preconceitos e cobranças
Mas o pior, segundo a atriz, foi enfrentar os preconceitos e as cobranças resultantes da fama. Giulia não esconde uma certa mágoa da classe teatral, que a tratou com um pouco de preconceito depois que ela apareceu na TV.
- Cobravam uma postura de estrela, como se eu não tivesse ais direito de fazer um papel secundário ou tocar tamborim num canto do palco. Engraçado é que os atores de TV também não entendiam minha postura. Achavam que eu estava rejeitando o sucesso. Teve gente que me aconselhou a fazer terapia. Hoje vejo essas mesmas pessoas buscarem suas raízes no palco. E eu é que precisava de terapia? - diverte-se.
Depois de Mandala, Giulia optou por correr o Brasil e o mundo com a peça Fedra. Trabalhou com o diretor Gerald Thomas, passou um ano estudando interpretação na Europa e atuou em diversos filmes. A Globo só conseguia arrancá-la dos palcos para trabalhos que ela considerava superinteressantes: a minissérie Primo Basílio e a novela Que Rei Sou Eu?. De lá para cá, só casos especiais: O Alienista, Lucíola e Lisbela e o Prisioneiro - todos sob a direção de Guel Arraes.
Nesse momento, o que fez Giulia voltar às telas foi a saudade de um trabalho mais prolongado. Afinal, fazer novela é um desafio - e isto é uma coisa que ela adora.
Retrato 3 x 4
Nome completo: Giulia Gam
Data e local de nascimento: 28/12/66, Perúgia, Itália
Signo e ascendente: Capricórnio com ascendente em Virgem
Formação: colegial
Altura e peso: 1m68 e 57 quilos
Religião: católica
Superstição: "Morro de medo de inveja e mau-olhado"
O que mais gosta na TV: "Não vejo muito. Cito o Programa do Jô Soares e o Roda Viva, da TV Cultura"
Hobby: mandar cartão-postal
Mania: tomar banho de banheira e um copo de vinho seco à noite
Maior fora que levou:  "Já levei muitos. Vivo confundindo o nome das pessoas"
Maior conquista profissional:  "Poder transitar livremente entre o teatro e a TV e ser respeitada em todos os veículos"
Outra carreira se não fosse atriz: cantora lírica
Motivo de arrependimento: "Não ter estudado mímica na Europa"
Pessoas que mais ama na vida: "Meus pais, Ana Deise Alves Gam e José Carlos Gam, e minha avó Enedina"
Melhor personagem em TV: "Aline, de Que Rei Sou Eu?"
Melhor personagem em teatro: "Julieta, da peça Romeu e Julieta".

Fonte: Revista Contigo!

Arquivo: Bia*