"Penso sempre daqui para a frente" - Revista UMA

20/07/2012 21:30

Ela já arrebatou o Brasil como Julieta, Dona Flor e Heloísa, trabalhou com importantes diretores, entre eles, Antunes Filho, Gerald Thomas e Daniel Filho. Também sofreu por amor, experimentou uma relação delicada, se viu orfã e lutou (como qualquer mãe faria) para ter o filho ao seu lado. Águas passadas e vida nova. Sim, ela deu a volta por cima!

Era uma tarde ensolarada de outono, um sábado, quando fiquei cara a cara com Giulia Gam. Local escolhido: TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo), onde a atriz está em cartaz com a peça infantil Pedro e o Lobo. Por conta de uma gripe muito forte, ela se atrasa para nosso encontro e chega quase na hora do espetáculo. Havia procurado ajuda de um amigo médico para se recuperar da rouquidão, já que a fábula é narrada por ela do início ao fim. Soma-se a essa rotina o papel de Laura, editora da revista, em Amor Eterno Amor, novela das seis da Rede Globo. Decido esperar, assistir ao espetáculo e, quem sabe depois da atuação, ela não fala comigo... Quando as cortinas se fecham, vejo surgir uma mulher sorridente, apesar de abatida, mas feliz e com a sensação de dever cumprido. Para nossa alegria, mesmo doente, ela está disposta a conversar.

Seguimos para o camarim, onde a atriz despe-se da personagem e mostra-se sem nenhuma máscara. Mas, antes de começarmos, uma ligadinha para o filho Theo. Ele está com fome, Giulia também. Decidem pedir comida árabe: tabule, coalhada seca, homus e michuí de carne. Mãezona que é, propõe irmos para sua casa a fim de continuar, ou melhor, iniciar nosso bate-papo e, ao mesmo tempo, ficar de olho no adolescente de 14 anos. Pego meu carro e vamos juntas para sua residência. Foram quase 3 horas de entrevista para desvendar, pelo menos um pouco, os segredos de uma mulher forte que soube como ninguém o momento de virar a mesa. Sim, ela fala pelos cotovelos, nada de respostas objetivas, com exceção de alguns assuntos ligados a momentos que ficaram para trás. Aí sim, ela é direta e reta, mas não menos poderosa, firme e de bem com a vida.

“Ser mãe é viver um amor incondicional e instintivo”

É assim que Giulia define um dos momentos mais mágicos na vida de uma mulher: o nascimento de um filho. “Eu tive o Theo com 30 anos e me separei logo em seguida”, conta Giulia. Mas nada disso impediu que ela exercesse o papel de mãe, o qual não abriu mão, nem mesmo quando enfrentou disputas judiciais. “Desde que nasceu, o Theo é a minha prioridade de vida, faço tudo em função dele”, revela. Tanto é verdade que hoje, aos 45 anos, mãe e filho programam atividades juntos para fortalecer ainda mais esse vínculo e provar que os laços não foram quebrados, muito pelo contrário, estão mais fortes do que nunca. “Ele é apaixonado por surfe e música. É nesse universo que ele se expressa e onde a gente se encontra”, diz Giulia, que, frequentemente, propõe viagens e passeios aliando os interesses dele com os desejos dela. “Mergulhamos em Fernando de Noronha, esquiamos no Chile, passeamos em Nova York, já cheguei até a surfar com ele. É claro que caí prancha”, dá a receita de sucesso dessa ligação, que ainda conta com um elemento importante: o respeito pelo espaço um do outro, principalmente nessa fase de adolescência.

“O vínculo entre um filho e uma mãe é muito forte. Num primeiro momento, é você com ele e ele com você; depois ele vai romper com você para fazer a vida dele. Mesmo demandando bastante atenção, é muito amor, é uma experiência incrível, que viveria novamente”, comenta sobre viver essa dádiva novamente.

“Ás vezes, ainda bate o desejo de ter mais um filho”

 “Perceber que você está orfã assusta”

Nascida na Itália, filha única de pai artista plástico (José Carlos Gam) e de mãe psicóloga (Ana Deise Gam), Giulia experimentou muito cedo o amargo sabor da perda. Após o falecimento do pai em 1994 devido a complicações de uma febre reumática, Nova York era o local ideal para recomeçar. “Lembro que nessa época minha mãe queria muito falar comigo e resgatar coisas. Eu virei para ela e disse: ‘Vamos aproveitar que estamos aqui para apagar o que passou, criar lembranças bacanas, começar algo novo daqui para a frente?’, propôs. Foi assim que as memórias mais dolorosas – as quais toda família tem – deram espaço para momentos de cumplicidade e amor. Em 2007, um tumor na cabeça levou a mãe de Giulia e trouxe alguns questionamentos sobre sua existência: medo de se ver orfã. Diante dessa nova realidade, Giulia encontrou uma resistência impressionante que a fez superar o inesperado. “Acompanhar toda a sobrevida da minha mãe por dois anos e meio, vê-la dizer que nunca tinha sido tão feliz, apesar da doença. Ela se sentia amada, cuidada. Isso me fez ter certeza de que era o momento dela e que essa passagem foi tranquila. É muito difícil se sentir orfã, mas ter superado esse sentimento, saber que isso não me assusta mais é um grande ganho”. Foi assim que Giulia se descobriu forte para encarar qualquer desafio que a vida colocasse no seu caminho. “A gente nunca está preparada, decido rápido, coordeno, priorizo o que é mais importante do que em situações que há tempo para divagar”.

“Estou descobrindo uma pessoa que é considerada sexy”

A mudança do visual para viver Laura, em Amor Eterno Amor, tem rendido uma série de elogios por onde passa. Mais magra, loiríssima e com um corte arrojado, Giulia brinca com essa fase, digamos assim, mais poderosa. “Tenho ouvido na rua palavras como “gostosa”, qualidade que nunca me atribuí. Se for o corte de cabelo ou a cor, nunca mais eu mudo”, comemora. Seja o que for, o fato é que Giulia está sim, mais bonita, e isso não dá para negar.

“A vida pode nos surpreender muitas vezes”

Entre amores e desamores, Giulia se manteve romântica. Por mais que os caminhos a tenham levado por uma  estrada mais longa, ela nunca deixou de acreditar no amor e no casamento. “Teve um momento em que eu achei que a vida tinha passado, fiquei um pouco de luto, pensava se  iria me apaixonar de novo, me envolver, morar com alguém. E isso aconteceu”. Ela se refere ao namoro a distância com o americano Stephen Bocskay, de 36 anos. Os dois se conheceram durante uma leitura de poemas no Rio de Janeiro há três anos e não se desgrudaram mais. A cumplicidade entre eles é indiscutível, tanto pelo humor quanto pela forma como encaram o relacionamento.

Finalizo a entrevista com certeza de que ela é realmente uma nova mulher, mais madura, centrada e disponível para amar e ser amada. Uma mulher que realmente deu a volta por cima. Por fim, ela me dá um autógrafo no programa da peça e tiramos uma foto juntas clicada por Theo. Na mensagem, muitas vibrações positivas: “Para Danille, obrigada por me ouvir e assistir, muita vida boa pela frente!!! Com amor, Giulia Gam”.

Fonte: Revista UMA

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