Seriado estreia dia 9. E a festa da ‘première’ foi um sucesso (O Primo Basílio)

28/07/1988 20:23

A ideia de produzir a série “O Primo Basílio”, numa adaptação do romance de Eça de Queiroz, era antiga nos bastidores da TV Globo. E seria tratada como uma história consagrada, apesar de partir de uma trama comum – o envolvimento de um homem e uma mulher, Basílio e Luisa. Isto, naturalmente, exigiria requintes de produção. Agora o desafio está vencido e o seriado, que envolveu uma especialíssima equipe (mais os 53 atores e 3 cantores líricos), está pronto para ir ao ar em 16 capítulos, a partir de 9 de agosto sempre às 22h20m.

“O Primo Basílio” foi apresentado na Casa de Portugal em clima de grande avant-première. Produtor e diretor, Daniel Filho mal controlava os nervos ao mostrar o resultado do trabalho, que ficou três meses nas mãos da Censura Federal e voltou com três cortes de planos sem diálogo, sob a alegação de que mostravam “sexo explícito”. Mas, enfim, o grande Eça também teve seus dissabores quando publicou o romance, em 1878... O lançamento em São Paulo, segundo Daniel Filho, teve como motivo a importância cultural e financeira da cidade, principalmente como maior mercado da televisão brasileira. “Eu trabalho num balneário, mas as coisas acontecem em São Paulo. É como trabalhar em Los Angeles e ter que ir receber em New York”, brincou. Os aplausos foram divididos entre a equipe de produção e as estrelas do elenco: Giulia Gam (Luísa), Marília Pêra (Juliana), Marcos Paulo (Basílio), Tony Ramos (Jorge), Sergio Viotti (Conselheiro Acácio), Beth Goulart (Leopoldina) e José de Abreu (Julião). Muitas cenas foram gravadas na cidade portuguesa  de Sintra e 55 por cento das locações acontecem na casa de Jorge e Luísa. O custo direto foi de CZ$ 1 milhão, considerado baixo por Daniel, diante da grandiosidade da obra. Ele diz que “O Primo Basílio” é um grande folhetim. E agora preocupa-se apenas com o que dirão os queirozianos.

- Eu adoro este romance. Não se pode dizer, porém, que a série seja algo novo em minha carreira. Acho mesmo é que estou me repetindo, mas Glauber Rocha já dizia que o homem vem à Terra para dizer sempre a mesma coisa – comentou.

Gilberto Braga, que dividiu com Leonor Basseres a transposição do romance para a televisão, garantiu que este foi o trabalho que mais gostou de fazer e que só é páreo para “Ano dourados”.

- Estou cansado de fazer novelas e este seriado me deixa orgulhoso. Fiquei uns quatro meses em Lisboa, preparando-me para escrever, o que me exigiu mais seis meses. O Eça é brilhante e com esta adaptação aprendi muito sobre mim também.

Elegante e requisitada durante todo o coquetel – no melhor estilo português, dos vinhos aos bolinhos de bacalhau e pastéis de Belém – Marília Pêra confessou que só depois de assistir à apresentação é que sentiu que valeu a pena.

- Li o livro na adolescência. E quando o Daniel me chamou, há uns dois anos, reli e disse que não faria o papel de Juliana. É que depois de alguns anos de carreira a gente conhece os personagens que nos maltratam, como este. Ela é uma pessoa sem sentimentos bons, que só se alegra com a desgraça dos outros. Então eu fiquei frágil, chorona, porque até as roupas feias da Juliana me faziam sofrer.

Para Giulia Gam, que ainda saboreia o sucesso na TV, foi tudo “impressionante”:

- Eu duvidada que conseguiria fazer, mas confiei no Daniel Filho.

Marcos Paulo confessava-se feliz com as descobertas que fez ao estudar o personagem Basílio e estendeu suas considerações muito além do aspecto social:

- É uma obra que mostra o que acontece hoje no Brasil, onde a crise moral é maior que a financeira. Basílio, um personagem amoral, tem a cara do Brasil e o que me motivou a fazer o papel foi descobrir essa linha, que não é a da direção, mas de minha observação como ator – disse. Ele não se conforma com as cenas censuradas, porque nenhuma delas chocaria o público e afirma que muito pior “é a pornografia política que os jornais estampam diariamente”.

Tony Ramos, feliz com a coincidência de aparecer em dois horários na TV – na novela “Vale Tudo” e em “O Primo Basílio” – está torcendo para que venham muitos outros grandes autores.

- A televisão pode e deve mostrar trabalhos desse nível. A novela é identidade nacional, uma obra aberta. Já o seriado tem outro enfoque; é obra fechada.

Fonte: Jornal O Globo