A VOLTA POR CIMA DE GIULIA GAM

17/10/1993 17:57

A atriz aceitou fazer o papel de Linda Inês, a protagonista de 'Fera Ferida', novela que substitui 'Renascer'

No universo da televisão, Giulia Gam faz parte de uma seleta constelação, formada por estrelas muito desejáveis, mas que só mostram sua luz de vez em quando. Em compensação, o brilho de sua aparição é tão intenso que nem os mais distraídos observadores deixam de notar. Foi assim em Mandala, Que Rei Sou Eu? e na Terça Nobre. Assim certamente será em Fera Ferida, próxima novela das oito, protagonizada pela atriz, uma das sensações da atual geração de jovens artistas.

Não basta ser bonita, é preciso ter talento. O princípio parece simples e óbvio, pelo menos entre os que se preocupam em produzir alio acima da mediocridade que prova a tela pequena. Na verdade, qualquer modelo-e-manequim da vida poderia interpretar (ou tentar interpretar) a Linda Inês do novo folhetim. Porém, os autores e a direção preferiram convidar uma atriz, não um engodo. Acertaram na mão. Desde que estreou na TV como a Jocasta jovem de Mandala, há cerca de seis anos, Giulia sempre surpreendeu pela força que imprime a cada nova personagem.

Ainda que a televisão tenha lhe proporcionado boas experiências, a artista. mantinha um certo distanciamento. Algo como um pé atrás. ''Depois de Primo Basílio é que percebi o que tinha acontecido. Eu estava projetada em todo o país. Foi um impacto. Quando me fizeram o convite para Que Rei Sou Eu? tive dificuldade para aceitar. Achava que precisava de mais experiência para lidar com o ritmo industrial da TV. Além disto, me senti numa camisa de força. As críticas eram severas e houve preconceito aos meus trabalhos anteriores. Pensei: será que vou precisar abrir mão das minhas experimentações, do meu direito de errar?"

O tempo serviu para tratar os receios da paulista Giulia e valorizar seu retorno no especial Lucíola, convidada por Roberto Talma. O resultado na tela, ela mesmo admite, não foi dos melhores. Mas rendeu ótimos dividendos. ''Fiquei sabendo que o Guel Arraes queria trabalhar comigo. Sempre o admirei, e fiquei muito feliz. Eu tinha imagem de heroína clássica, e ele investiu no meu lado humorístico'', diz. Foram necessárias apenas duas participações na Terça Nobre - em O Alienista e Lisbela e o Prisioneiro - para que o principal papel de Fera Ferida ganhasse uma dona definitiva.

ELA GARANTE QUE NÃO FEZ CHARMINHO - É a Giulia. Não é a Giulia. Durante quase três semanas o eco destas frases se alternou nos corredores da Globo, principalmente na sala da produção de Fera Ferida. Cinco anos depois de Que Rei Sou Eu?, a história se repetia, e a atriz não sabia se aceitava ou não o papel de protagonista de uma novela e todas as conseqüências que uma resposta positiva certamente traria. Uma novela à parte, mas com final feliz.

Os argumentos da artista para justificar a demora na decisão mostram que a intenção não era fazer charminho. ''O Banco do Brasil havia acabado de aprovar o apoio financeiro para um projeto meu e da Beth Coelho de montar a peça Pentesiléias. Também achei complicado fazer o papel de mocinha da novela. É difícil sustentar uma personagem com discurso de bom caráter por oito meses. Fica sem graça. Os canalhas da novela são caricaturais, bem melhores'', explica. Os interessados - no caso, autores e diretores - trataram logo de abrir trilhas por entre os obstáculos. Giulia trabalhará em esquema mais flexível, que lhe permitirá tempo livre para tocar o projeto teatral no outro polo da ponte aérea que a atriz passará a freqüentar com assiduidade.

Quanto a Linda Inês, seu papel em Fera Ferida, também foi reformulado. A retórica quase ingênua da boa moça foi substituída por um texto mais irônico e ousado. "Ela é a filha do prefeito corrupto (Demóstenes Maçaranduba, vivido por José Wilker), estudou fora e voltou a Nova Califórnia para criar carneiros e montar tecelagem. Linda age à Margem da canalhice e, por isto, corria o risco de ficar Piegas. Mas o Aguinaldo (Silva, autor) se propôs a modificar'', conta Giulia, que resolveu aceitar o desafio no segundo convite. Mas confessa: ''Estou morrendo de medo, com um frio na barriga.''

'AGORA QUERO CASAR E TER FILHOS'

NAMORO - ''Estou namorando há quase um ano, mas é um assunto que prefiro não expor. A relação fica vulnerável. Só posso dizer que não é ator.''

CASAMENTO E FAMÍLIA - ''Comecei a pensar nisto a partir de um ano atrás. Antes, era totalmente voltada para a conquista de um espaço profissional. Cheguei a um momento na vida no qual percebi que, quando terminava um trabalho, não tinha para onde voltar. Aí surgiu essa vontade de casar e ter filhos. A natureza também é terrível com a mulher, e cobra.''

RENOVAÇÃO NA TV - ''"Há uma geração que ajudou a construir a televisão, formada por pessoas como Daniel Filho, Paulo Ubiratã, Lima Duarte, Regina Duarte. Há outra que está entrando, vinda do cinema e do teatro, que é bem diferente, tem desejo de inovar. É o caso do Jorge Fernando e Guel Arraes, entre outros. Como a Globo tem preocupação com Ibope, não há espaço para experimentações.''

TEATRO E CINEMA - ''Eu tenho o teatro como um sacerdócio, uma responsabilidade quase espiritual. E o cinema é o lado mais lúdico da profissão. Fico feliz quando faço qualquer filme.''

SUCESSO - ''A fama por si só não me interessa. Tenho mais vergonha de fazer uma coisa que não gosto para milhões de pessoas do que outra que esteja adorando para um público bem menor.''

NUDEZ NA TELEVISÃO - ''Pantanal mexeu muito com a Globo, que andou apelando por algum tempo. A nudez precisa ter sentido e plasticidade, não pode ser gratuita. Felizmente, nunca expus minha nudez, nem em Primo Basílio.''

VIOLÊNCIA - ''Estou apavorada. Não mudei para o Rio há anos atrás por causa da falta de segurança da cidade. Agora, então, nem pensar. Sinto que os cariocas estão mais fechados em casa, vivendo de forma cada vez mais paulista.''

CARREIRA - ''Estou vivendo um processo inverso. Comecei a trabalhar com drama, e agora o que mais me interessa é fazer humor.''

LUCÍOLA - ''Aquela Terça Nobre foi uma tragédia. Fica difícil adaptar clássicos para 45 minutos. E preciso recriar para funcionar na televisão.

ESTRELA DAS OITO - ''Tenho pavor só de pensar. A pressão do Ibope, a super-exposição, tudo isso me dá uma angústia enorme.''

LINDA INÊS - ''O Aguinaldo Silva disse que ela ia matar uma onça no primeiro capítulo. Vamos ver."

 

Autor/Repórter: Omar de Souza
Jornal/Revista: O Dia

Arquivo Pessoal: Edson William