Alguém veste a carapuça? - Sangue Bom
A novela Sangue Bom usa da metalinguagem para espinafrar as celebridades. Nem gente com crachá da Globo é poupada
Diretor de núcleo responsável por Sangue Bom, o novo folhetim das 7 da Globo. Dennis Carvalho virou alvo da maledicência de um artista insatisfeito. Calma, leitor, isso se passa no campo da ficção. No capítulo do sábado 11, a atriz decadente Bárbara Ellen (Giulia Gam) vai justificar assim o impulso que a leva a quebrar um garrafa de uísque na cabeça de Carvalho – e ser banida da Globo: “Ele me chamou para o papel de uma atriz decadente numa novelinha das 7 chinfrim escrita por dois autores irrelevantes”. A trama da dupla Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari mal começou, mas já exibe uma qualidade: ainda que naquele registro ameno de comédia das 7, a língua dos personagens de Sangue Bom revela-se bem afiada. Há alfinetadas em lugares-comuns do Brasil e do Bolsa Família. “Já que a classe C dá as cartas neste país, vamos confraternizar com a patuleia”, disse uma personagem. A metralhadora se volta, sobretudo, contra as pseudocelebridades. “As pessoas estão cheias desses balões cheios de nada”, diz Maria Adelaide. Bárbara Ellen é o resumo de tal ópera. Ela teve sete maridos, e quatro de seus cinco filhos são adoções à moda multicultural. Apesar de branquíssimo, um deles é descrito pela mãe como “afrodescendente”. “Ela jura que foi a Angelina Jolie que a copiou, não o contrário”, diz Villari. As farpas não poupam nem a Globo – em breve, Dennis Carvalho em carne e osso será espinafrado por Bárbara. O novelão dentro do novelão, aliás, não se esgota na ficção: na semana passada, o braço-direito de Carvalho, Carlos Araújo, deixou a direção-geral de Sangue Bom após ser acusado de agressão por uma assistente e suposta amante. Uma coisa Bárbara.
Embora a metalinguagem não seja inédita nas novelas, Sangue Bom chama atenção por se valer do recurso como motor da história – e num tom mais ácido que o usual. Bárbara se bate com certa Mulher Mangaba (Ellen Roche, ex pupila de Silvio Santos), uma daquelas dançarinas de atributos avantajados que pululam na TV. Também desdenha do pessoal de reality shows. Os autores juram não ligar para uma questão delicada: o risco de incomodar gente na Globo. “Se as pessoas se irritarem, problema delas. Cada um veste a sua carapuça”, diz Maria Adelaide.
Fonte: Revista Veja