Apaixonada demais - Revista da TV
O único pecado dela é amar demais
As salas do MADA, sigla do grupo Mulheres que Amam Demais, estão superlotadas desde que “Mulheres Apaixonadas” mencionou sua existência pela primeira vez. Em todo o país, há um verdadeiro boom que Giulia Gam, intérprete de Heloísa, personagem que vive o drama de estar envolvida num relacionamento destrutivo na novela das 21h, conferiu quando esteve numa sessão realizada na Zona Sul do Rio, na semana da Páscoa. – Várias mulheres me disseram que procuraram o Mada por causa da novela – conta a atriz. – Fiquei comovida: o grupo tem mulheres bonitas, bem-sucedidas, de classes e raças diferentes, que dizem coisas muito íntimas, expõem suas almas.
Em São Paulo, algumas instituições que cederam salas ao Mada ameaçam expulsá-lo, temendo o caos. Já no Rio, a coordenadora da sala onde Giulia Gam esteve exulta: na terça-feira passada, quando foi realizada a primeira reunião depois da visita da atriz, cem mulheres foram conhecer o grupo. O jeito foi promover duas reuniões paralelas. Antes de “Mulheres Apaixonadas”, havia no máximo 25 pessoas em cada sessão.
Claro que todas sabiam que Giulia era Giulia quando esteve no Mada. Mesmo assim, a atriz fez questão de se apresentar e dizer que sua intenção ao “violar” aquela espécie de santuário, era a melhor possível.
- Eu tinha medo de constrangê-las – conta a atriz. – Mas expliquei que estava ali para fazer uma pesquisa. Não queria representar uma personagem caricata, nem ser leviana.
A atitude de Giulia eliminou qualquer constrangimento que sua presença pudesse causar. Tanto que, ao final, ela foi convidada pelas participantes a voltar.
Na tentativa de reconquistar Sérgio (Marcello Antony), Heloísa passará a frequentar o Mada em breve, depois de rejeitar veementemente a ideia. Na novela, a personagem diz que a sede do grupo fica no Jardim Botânico, e as gravações são feitas numa casa em Santa Teresa. Os dois endereços são falsos. Também para preservar as frequentadoras, os depoimentos exibidos em Mulheres Apaixonadas são fictícios. Na reunião de terça-feira passada, porém, o Mada recebeu uma das atrizes que participa destas cenas da novela.
A visita ao Mada mudou a forma como Giulia via sua Heloísa. Desde o começo da trama, o autor, Manoel Carlos, e o diretor, Ricardo Waddington, haviam lhe dito que a personagem seria excessivamente ciumenta. Mas ela não sabia onde desaguaria este ciúme.
- No começo não estava muito claro pra mim quão fundo a novela iria nesta questão. Achei até que a Heloísa podia ficar engraçada. E o Maneco não quis que eu visitasse o grupo logo, para que não fizesse a Heloísa prejulgando suas atitudes.
Hoje, a atriz entende que sua personagem vive uma situação-limite e afirma que, como muitas pessoas, também já viveu momentos assim. Um deles foi sua separação do jornalista Pedro Bial, pai de seu filho, Theo, de 5 anos. Giulia e Bial passaram quase dois anos lutando pela guarda do menino na Justiça. A decisão saiu em janeiro e ela conquistou o direito de morar com o filho.
– Todo mundo tem momentos de baixa estima, e essa situação me angustiou demais.
Atualmente, Theo passa dois fins de semana e mais seis manhãs com o pai a cada mês. No resto do tempo, Giulia o enche de carinho.
– No momento, o único homem da minha vida tem 5 anos, estou a maior Jocasta! – brinca ela.
Além de estar no ar no horário nobre, Giulia também pode ser vista nas segundas-feiras à noite fazendo junto com colegas famosos a leitura de textos de teatro ou poesias no shopping Rio Designer Center, no Leblon. Antes de ganhar as ruas, o projeto Tudo é Teatro funcionava na sua casa, um apartamento no mesmo bairro alugado do ator Paulo José há dois anos.
– Quando me instalei no Rio, achei que esta era uma boa maneira de estudar e me entrosar – conta.
Ela participa das encenações quando não está gravando ou estudando as cenas de Heloísa. Pesquisas mostram que alguns telespectadores estranham os escândalos da ex-mulher de Sérgio. Mas a maioria gosta da personagem e da interpretação de Giulia, que volta às novelas depois de nove anos afastada. A jornalistas Rita Ruschel, autora do livro “Rita Ritinha – Aprendendo a amar” e frequentadora do Mada, aprova Heloísa.
– É assim que muitas mulheres que procuram o Mada agem: elas vão a algumas reuniões, se afastam achando que serão capazes de lidar com suas emoções sozinhas, e depois voltam, aí sim, para se tratar.
Rita se preocupa com a superlotação das salas:
-Desse jeito, não é possível tratar ninguém. É importante as mulheres saberem que há outros grupos que podem ajudá-las, como Neuróticos Anônimos ou Comedores Compulsivos Anônimos.
Antes de ir ao Mada, Giulia conversou com a pesquisadora Leandra Pires, da equipe de Manoel Carlos, que tem assistido regularmente as reuniões. O autor também se empenhou pessoalmente na pesquisa, ouvindo mulheres como Rita, a quem sugeriu que escrevesse uma monólogo para Giulia Gam estrelar. Para ele, não há por que temer um colapso no Mada.
– Se os lençóis que aparecem na novela esgotam nas lojas, como não vão lotar as salas do Mada? Acho que muitas pessoas precisavam dessa ajuda e não sabiam que o grupo existia. Outras criaram coragem de ir depois de ver a novela. Não há possibilidade de caos. Quando as salas lotarem, fecham-se as portas.
Fonte: Revista da TV - Jornal O Globo