Bate-bola com Giulia Gam - Revista Vila Nova Conceição

31/05/2011 22:06

A atriz se ‘reinventa’ para viver a delegada Telma, no longa Assalto ao Banco Central, e revela mais sobre essa história, baseada em fatos reais.

Aos 15 anos de idade Giulia Gam já teve a honra de começar sua carreira teatral, pelas mãos do consagrado diretor Antunes Filho, que a selecionou para uma montagem de Romeu e Julieta, no ano de 1984. Sem contar que trabalhou também com os mestres José Celso Martinez e Gerald Thomaz. Em novelas, estreou em 1987, em Mandala, vivendo a protagonista Jocasta na fase jovem. Entre seus inúmeros trabalhos na TV, destaque para Aline, de Que Rei Sou Eu?(1989), Linda Inês,  de Fera Ferida (1993) e Heloísa, de Mulheres Apaixonadas (2003).

Muito talentosa e observadora com seus colegas de trabalho, Giulia confessa a honra que foi contracenar com o veterano Lima Duarte, no filme Assalto ao Banco Central. “Tenho um respeito absurdos pelas pessoas mais velhas, porque eu acho que realmente tem conhecimento que só vem com o tempo mesmo”, afirma. Para viver a delegada Telma na história, a atriz conheceu a rotina de alguns homens da lei, para dar mais veracidade às cenas. “Conversamos muito com os policiais federais.”

Neste bate bola, Giulia Gam falou sobre cinema, moda e como foi a experiência de interpretar uma personagem que lutava contra um câncer, Tititi. Confira!

Como foi esse assalto no filme?

Giulia Gam: O mais impressionante foi toda a preparação desse assalto, porque eles alugaram uma casa, em Fortaleza, perto do Banco Central. Mais ou menos perto, porque eles cavaram um túnel de 80 metros e o verdadeiro túnel tinha 70 e poucos centímetros de diâmetro. E ninguém percebeu nada. Eles cavaram aquilo, entraram no cofre do banco e saíram com o dinheiro que estava reservado para ser queimado, até porque tinha as notas novas, que estariam numeradas. Fingiram que aquilo era uma casa de grama artificial, uma coisa assim.

 

O que mais te impressiona nesse roubo até hoje?

O fato de ninguém ouvir nada, ninguém saber de nada. Você cavar um túnel de 80 metros em menos de três meses e ninguém perceber nada... Então isso foi uma das coisas mais incríveis. Eram pessoas profissionais, você tem que ter toda uma estrutura para conseguir planejar, calcular, fazer. Essa história, como eles conseguiram realizar isso, que é tão bacana, que a gente tentou fazer o filme.

 

Quem é a Telma, sua personagem na história?

Ela é uma delegada federal do NO, que é o Núcleo de Operações. E tem o Lima Duarte, que é um delegado também. Só que ele, digamos assim, é o responsável pela investigação do caso. Então, essa diferença do antigo delegado investigador, o que ia pelo raciocínio e pela dedução, pelos depoimentos, esse seria o tipo de trabalho dele. Eu entro com a parte do que está acontecendo realmente na polícia de uma forma geral, preparada no sentido de ter diploma de Direito, cursos, treinamentos.

 

Por ela ser uma delegada tem aquele estereótipo masculinizado?

Na verdade, quando eu li a descrição do personagem e vi que ela era gay, eu até perguntei para o Marcos: “Mas o fato de ser gay tem alguma importância dentro da história?”. Dramaturgicamente, não. Pelo contrário. A gente tem essa ideia de delegada gay e, de repente, pesada, masculinizada e o que se vê agora é o contrário, mulheres, independente se são homossexuais ou não, mas superfemininas, de tailleur. E aí ele falou assim: “Não, não precisa ser uma personagem masculinizada. Eu acho que acabou ficando quase como uma brincadeira com o Amorim, porque ele que se diz tão esperto e que saca tanto, que percebe tanto assim. De repente para ele é um susto, mas um susto não ter percebido que aquela mulher que está ali do lado dele, feminina e tal, tem uma namorada.

 

Para compor esse trabalho fez laboratório, conversou com policiais?

Conversamos muito com policiais federais. E também tem uma coisa mais baseada na parte técnica, digamos assim. Até porque isso evoluiu, exame de DNA, enfim, mil outras coisas que você pode fazer. Tanto que esse próprio crime dos Nardoni, conseguiram prendê-los por causa dessa perícia. Então valoriza muito a parte pericial e técnica, mais do que a psicológica.

Como surgiu a oportunidade de integrar o elenco?

Quando o Marcos me convidou para fazer o filme e eu li o roteiro, ele já tinha me dito que estava fazendo um filme sobre a história do assalto. E ele me contando já era fascinante, porque é um assalto que não teve nenhuma violência, digamos assim. Ninguém morreu, pelo menos no roubo. Depois, eu não sei se eles brigaram entre si por causa de dinheiro.

 

Como você define esse filme?

É um filme de ação no sentido do raciocínio, de ver e saber que você está lidando com uma quadrilha inteligente. Não é sobre denúncia de corrupção dentro da polícia, tipo um documentário, alguma coisa que retrate um fato real.

 

Quais foram as suas referências em séries policiais?

Eu, por exemplo, gosto “Law and Order” [seriado norte-americano], adoro esse processo investigativo, do raciocínio e não necessariamente do Jack Bauer lá atirando em todo mundo, isso é mais masculino. Essas séries, mesmo o “House”, que não é uma coisa de polícia, mas o raciocínio, eu acho muito bacana. Então, a gente brincar de polícia, nós dois [refere-se ao Lima Duarte], os diálogos e tal, não é algo totalmente realista, é mais para o cinema até, do que realmente retratar uma realidade. Mas a gente teve muita preocupação em não ficar fora da realidade. Como é a Polícia Federal no Brasil? Temos muita referência desses filmes de FBI. Então, foi muito importante conversar com o pessoal da Polícia Federal. Muito. Eles foram super atentos, acompanharam as filmagens. Teve também o pessoal da equipe do Farjalla, que faz os efeitos especiais, e ambos nos ensinaram como pegar a arma, entrar numa casa, o que você observa, quais são os códigos e reações.

 

Como foi contracenar fazendo uma dupla com o Lima Duarte?

Uma das coisas que o Marcos Paulo me falou, é que o bacana de fazer o papel seria estar o tempo todo com o Lima Duarte, como uma dupla. Eu seria uma pessoa nova dentro da polícia e ele, ao contrário, estaria perto de aposentar, seria talvez seu último trabalho. Eu conheço o Lima, é claro, já fizemos novelas, mas nunca contracenei com ele. No começo estava com muito medo porque, às vezes, você admira uma pessoa e você fica vendo. Uma das primeiras coisas que a Fátima Toledo, com quem eu não cheguei a trabalhar, me falou, num dia em que eu não aguentei de curiosidade e fui vê-la ensaiando com resto do pessoal, foi:  “Você não pode ficar inibida e tímida”, porque a Telma é meio topetuda quando ela chega, ela é meio tipo “ah, esse cara já está defasado, já está velho”. E eu, pessoalmente, sou o contrário, tenho um respeito absurdo pelas pessoas mais velhas porque eu acho que realmente tem conhecimento que só vem com o tempo mesmo. A própria profissão de ator é como o vinho, vai ficando melhor conforme o tempo vai passando. Então, nesse ponto, eu discordo dela.

 

Qual a cena que mais te chamou atenção?

Uma das cenas que eu gosto e acho engraçada é uma que, depois de você ver a Telma sempre com o seu tailleur, seu distintivo, revólver, bota, jeans, ela aparece com o vestido todo floridinho, empurrando um carrinho de bebê, pois estão vigiando uma casa e, de repente, quando sai um dos assaltantes lá de dentro, ela tira uma pistola debaixo do bebê. É divertido, porque ela está de tamanquinho e tal, fazendo um personagem nesse momento.

 

Do cinema para a TV, como foi a experiência de ter vivido uma personagem com câncer, em Tititi?

Foi um dos trabalhos mais difíceis, em termo de composição. Quando recebi o convite para atuar numa trama das sete, achei que não fosse fazer um drama. A Bruna exigiu muito e fiquei um pouco tensa.

 

É verdade que na fase da novela, você levou algumas referências do visual da Bruna para o seu guarda-roupa?

Estou aprendendo a combinar quando o assunto é moda. A relevância de uma bolsa para mulher, tal como é o relógio para alguns homens.

 

Como foi compor esse visual de uma mulher rica, fina, mas que não era “perua”?

Ela tinha valor maternal, era culta e rica. Mas sabia mesclar tonalidades sem que fosse uma perua!

Revista Vila Nova Conceição

 

Gostaria de agradecer a Priscila Farias que gentilmente enviou essa matéria para o FC. :)

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