De volta para o futuro - Revista Marie Claire

26/07/2003 15:09

Nos últimos cinco anos, a vida da atriz Giulia Gam, 36, virou de pernas para o ar. 'Estava tudo crescente, potente, e de uma hora para outra tudo começou a desmoronar', diz ela. Nesse tempo, Giulia casou e descasou com o jornalista Pedro Bial, teve um filho, Theo, viveu uma violenta crise emocional e enfrentou um processo de dois anos pela guarda de Theo. 'Foi um strike geral.' Hoje, com a alegria e o filho de volta, ela está a toda no horário nobre, acelera o Ibope na pele da enlouquecida Heloísa, de 'Mulheres Apaixonadas', e nos palcos estréia a peça 'Os Sete Afluentes do Rio Ota', em São Paulo. Aqui, a atriz conta como colocou a casa e a cabeça em ordem e aproveita para passar a vida a limpo. Com a coragem de quem já suportou uma descida aos infernos, Giulia fala sobre sexo, drogas, separação, depressão - e volta por cima. 'Sou uma sobrevivente muito feliz.'

Marie Claire Está sendo desgastante fazer a Heloísa, uma mulher desequilibrada, que sofre tanto?
Giulia Gam Cansa, cansa. Porque você não deixa de mexer com essas energias todas. No tempo livre, procuro nadar, porque a água é terapêutica, e faço umas massagens, para me centrar.

MC Você é ciumenta?
GG Até sou, mas sempre coloquei na cabeça que se a pessoa está comigo, está comigo. Se eu tivesse que controlar um homem, entraria em pânico. Dá muito trabalho. Não tenho essa coisa latina, de valorizar o ciúme como um medidor do amor. Acho mais importante a lealdade. Tive um namorado alemão e aprendi com ele que, antes de tudo, um casal são dois cidadãos. Existem planos em comum, mas ninguém é dono de ninguém. Uma infidelidade sexual pode ser superada, se existir lealdade.

MC Você já disse que demora para ficar brava, mas quando fica...
GG Descobri no jogo de búzios que sou de Oxum. Ela é a rainha das águas doces, mas pode se tornar violentíssima. Eu já fui muito doce, não sabia dizer 'não'. Quando brigava, já era para ir embora. Com o tempo aprendi a brigar, mas ainda é difícil dizer: 'Não achei legal o que você fez'. Talvez por ser filha única, não aprendi a negociar.

MC Você nasceu em Perugia, na Itália, por acaso, não?
GG Por acaso. Meu pai era engenheiro, filho de dinamarqueses. Nasceu no Brasil, mas trabalhou dez anos em Paris. Lá, conheceu minha mãe, andando em uma roda gigante. Ela é de Penápolis, interior de São Paulo, estudava psicologia na Sorbonne. Eles viveram em Paris nos anos 60. Meu pai também era pintor e estudou na universidade de Perugia. Nesse tempo eu nasci, mas me criei em São Paulo. Só conheci Perugia aos 21 anos, levada pelo meu pai. Ele me pegou de carro em Munique e fomos a Verona, depois passamos pela Úmbria, ele me dando uma aula de história.

MC Vocês tinham uma relação forte.
GG Extremamente. Ele me deu o lado lúdico da arte. Sabia transformar cada momento em um acontecimento. Quando viajava, não fazia programa turístico, e detestava ficar em hotéis. Esperava ter um amigo polonês para ir à Polônia. Quando ele morreu [em 1995], foi um choque. Meu pai tinha um problema no coração e, aos 62 anos, teve um derrame fatal. Quando estou muito cansada, ainda sonho com o colo do meu pai. Não quis ver o rosto dele morto. Ele caiu na cozinha, com o braço tampando o rosto. Saí da cozinha, minha mãe ficou, e eu só ouvi o grito dela.

MC E a relação com a sua mãe?
GG Minha mãe é passional, engraçada. Quando eu tinha 9 anos, conheceu um guru indiano e entrou para o caminho da meditação, do vegetarianismo. De repente, em casa só tinha vegetais, panela de barro. E ela era filha de fazendeiros, a gente fazia churrasco... Mas eu curtia. Ela fez uma horta orgânica, usava vestidos indianos.

Na pele de Heloísa, contracenando com Marcelo Anthony em 'Mulheres Apaixonadas'

MC E você fazia esgrima.
GG Pois é, a gente era meio diferente [risos]. Eu tinha atração por essa coisa medieval. Pratiquei oito anos, andava com o florete para cima e para baixo.

MC No mesmo ano em que seu pai morreu você perdeu sua avó materna, com quem diz que tinha muito em comum...
GG Minha avó Enedina. Dela eu herdei o espírito teatral. Ela era performática, se fantasiava no Carnaval. No Natal, ela me vestia de anjo. O velório dela foi lindo. O caixão estava na sala da casa, e eu dei um beijo na boca dela. Depois a gente foi andando com o caixão na rua, e meu tio puxou uma música de Carnaval. Foi uma das cenas mais loucas que vivi. A gente carregando um caixão, cantando 'Mamãe eu quero'.

MC Você encara a morte com naturalidade?
GG Eu não, morro de medo. Herdei dessa avó um lado católico, do pecado, do inferno. Em Penápolis, a gente passava em frente a uma funerária, ela virava a sombrinha de lado, para não olhar aquelas coisas roxas. Meu pai foi cremado. Enrolei o caixão dele num sári superlindo, enfeitei com girassóis.

MC Que tipo de adolescente você foi?
GG Eu não tive adolescência. Aos 15 anos, entrei para o grupo do Antunes [Filho, diretor de teatro], comecei a trabalhar com gente mais velha, a ter responsabilidades. E era tímida. Gostava do palco, mas tinha dificuldade com a palavra.

MC Era tímida para namorar?
GG Eu era meio moleca. No sítio, subia em árvore. Mas não tinha essa danadice sexual. Encontrei uma amiga de colégio outro dia e ela disse: 'A gente demorou a perceber o efeito de um bom decote'. Fui de uma turma mais orientada para o lado intelectual. Eu era a única virgem do Antunes. Só transei aos 18 anos, e a gente combinou tudo, o lugar, o dia mais seguro.

MC Tudo assim, programado?
GG Ah, eu via mais como uma coisa que eu tinha que resolver. Ele era pianista, mais velho. A mãe dele viajou, foi na casa dele. Mas achei muito engraçado ficar deitada, com as pernas pra cima. Pensei: 'Toda aquela excitação era pra isso?'. Com o tempo, claro, você descobre o sexo, vai gostando.

MC E drogas, você experimentou?
GG Com droga eu convivi mais tarde. O Antunes era contra, chamava de 'tóxico' [com som de 'ch']. Com 20 e poucos anos, experimentei maconha e cocaína, mas com muito medo. Com maconha nunca me dei bem, sentia sono. Cocaína, experimentei uma fileirinha, e era gostoso, você 'acorda', se sente com poder. Mas já na primeira vez que travei, que não consegui dormir, foi o limite. Graças a Deus nunca botei minha angústia nisso.

MC Você estreou na TV aos 20 anos, como a Jocasta, em 'Mandala', depois de cinco anos de teatro. Tinha preconceito com televisão?
GG Todos. Eu inventava umas artimanhas ridículas na minha cabeça, tipo 'enquanto é só minissérie, tudo bem'. Quando me chamaram para fazer [a novela] 'Que Rei Sou Eu?', passei o dia na sala do Daniel Filho, e eu chorava, chorava, dizendo que não podia trair o teatro. Isso só passou agora. Sei que não vou me 'estragar' por estar na televisão. E de que outro jeito ia mexer com tantas pessoas, com esse papel da Heloísa?

MC Nesse início de carreira você namorou o Tony Bellotto, dos Titãs. Como foi essa relação?
GG Foi uma fase de recuperar a adolescência. Brinco que o Tony me ensinou a namorar. Eu vivia trabalhando, e ele me levava para passear de mãos dadas.

MC Nos anos 90 você namorou o Otavio Frias Filho, diretor de redação e um dos herdeiros da 'Folha de S. Paulo', e chegou a declarar que queria casar e ter filhos com ele. Como foi esse período?
GG Ai, isso foi na 'Caras', e eu fiquei brava. Nessa época levava tudo muito a sério. A revista colocou umas fotos minhas no castelo e saiu: 'Giulia Gam quer casar com o herdeiro da 'Folha' e ter três filhos'. Não que eu não quisesse casar, mas achei um absurdo fazerem essa imagem de socialite.

MC Foi um relacionamento importante?
GG Muito. Ficamos juntos quatro anos e meio. Primeiro, que a gente tinha liberdade de falar sobre tudo. O Otavio é uma pessoa muito engraçada, era um cara que tinha muito humor no sexo. Era essa coisa do sexo com brincadeira, de falar besteira. Foi uma relação divertida, em todos os sentidos. A Bete [Coelho, atriz] namorava o irmão dele na época, éramos um quarteto, a gente ficava até de madrugada lendo peças. E ele sabe transformar as dificuldades e as fobias dele em coisas atraentes. Com aqueles ternos, óculos, você não imaginava que ele pudesse ser um grande conquistador. A família dele toda é muito elegante. Meu pai morreu quando a gente estava namorando, até hoje me sinto amparada por ele.

MC E em seguida você conheceu Pedro Bial.
GG Mas eu não estava mais com o Otavio. Depois que meu pai morreu, eu viajei para Nova York. E o Pedro tinha feito uma matéria sobre mim no 'Globo Repórter', no boom de 'Mandala'. Entrevistou o Antunes, meus pais. Meu pai admirava o Pedro. Quando ele morreu, vi uma matéria do Pedro na TV e resolvi ligar: 'Oi, nem sei se você se lembra de mim...'. Começamos nos corresponder e nos reencontramos no Brasil.

MC E logo se casaram?
GG Foi uma paixão fulminante. Em três meses, a gente estava morando juntos.

No início de carreira, aos 17 anos, dirigida por Antunes Filho em 'Romeu e Julieta', com Marco Antonio Pamio; à dir., em 1989, na novela 'Que Rei Sou Eu?

MC Você engravidou logo?
GG Depois de uns dois anos juntos, fomos fazer um filme ['Outras Histórias', dirigido por Bial] no interior de Minas. Um dia, eu estava grávida no meio do sertão. E foi lindo. Eu tinha muita vontade de ter filho, mas o Pedro pensava em a gente acabar o filme e fazer uma viagem pela Europa, curtir um pouco. Mas o filho veio.

MC Foi a primeira vez que você engravidou?
GG Foi. Graças a Deus, porque não queria passar pela dúvida do aborto. E uma das coisas maravilhosas da gravidez é poder transar à vontade. Minha gravidez foi maravilhosa. A barriga era linda, o Theo nasceu com 4,140 kg. O Pedro ficou perto, fazia comida para mim. A gente não tinha babá, éramos só os três. Foi a melhor época da minha vida.

MC Você já declarou que a gravidez é uma 'despersonalização'. Como assim?
GG É que, antes de engravidar, a gente tem o controle de tudo: eu sou a Giulia. E de repente tem um ser dentro de mim, e a natureza toma conta, o teu peito vai enchendo de leite. A [escritora] Camille Paglia fala que a mulher moderna ainda tem o contato com a natureza por causa da gravidez. O homem acha que controla tudo porque não tem nada dentro dele mudando.

MC Um ano depois que o seu filho nasceu, você se separou. O que aconteceu?
GG A feitura daquele filme foi difícil para o Pedro, e eu não podia acompanhar muito, nossas expectativas eram diferentes. Ele disse que a gente estaria parindo um filme e um filho. Ele tinha outros filhos, não tinha essa glamurização da paternidade. E para mim era a história do príncipe encantado, e a gente não segurou a onda de fazer essa família.

MC Você também disse que, depois do parto, o homem é responsável por ajudar a mulher a recuperar a sexualidade, a vida normal, e que não teve esse apoio.

GG Eu nem dei essa chance ao Pedro. Fiquei paralisada. Enquanto o barrigão estava ali, podia ir e vir, mas quando o bebê sai... Eu me senti vulnerável. Não era mais a mulher superpoderosa que saía por aí com a espada na mão. Ao mesmo tempo, o bebê te dá muito amor. Lembro que o Pedro chegou com dois ingressos para ver os Rolling Stones -que é o papel do homem, tirar a mulher daquele universo- e eu não quis ir, porque era tão lindo ver a carinha do meu filho. Tanto que não tive a depressão pós-parto clássica. Amamentei seis meses, não rejeitei meu filho. Mas aí eu tive que mudar para o Rio, a gente tinha que ir para a Copa do Mundo na França, começou a suspeita de depressão pós-parto, e isso me deixou mais angustiada.

MC Se não foi depressão pós-parto, o que foi?
GG Eu até queria que fosse, pelo menos saberia o que tinha. Me sentia infeliz. Agora, com distanciamento, acho que tive uma crise de ansiedade, um bloqueio mesmo, que me culpei muito por tudo.

MC Culpa de quê?
GG De ter falhado, de não ter conseguido manter uma família com o nascimento de um bebê, o que seria a coroação do amor. Foi a primeira vez que morei junto. Eu tinha certeza, na época, que o Pedro era o homem da minha vida, e não consegui harmonizar tudo. Estava tudo crescente, potente, de repente não sei de que lado entrou um vento, e tudo começou a desmoronar. Eu me cobrava demais. Meu problema não era em relação ao filho. Era a comida, o banco, a empregada, a logística da vida. Me deu muita ansiedade, e culpa em relação ao filho, por ver o casamento se desmanchando e não viver essa família. Uma das coisas mais difíceis, para eu me convencer da separação, era me sentir mãe solteira. Achava que tinha escapado dessa, que tinha conhecido um homem experiente e ia ficar com ele até ficar velhinha.

MC Durante a Copa de 98, houve boatos de que o Pedro Bial estaria tendo um caso com a modelo Susana Werner. Em qual medida esses boatos afetaram a relação de vocês?
GG Eu fui para a França porque o Pedro quis que eu fosse, porque ele queria estar perto de mim e do Theo, que tinha dois meses. De lá, eu não tinha noção do que estavam dizendo no Brasil. O Pedro me falou que estava surgindo um certo boato, mas eu não tinha a dimensão do tamanho disso. No Brasil é que vimos todas as matérias que tinham saído. Comentei com ele, ele me disse que seria muito cafajeste da parte dele me levar para lá com um bebê pequeno e ter uma história assim. Se é verdade ou não, não sei. Eu preferi acreditar na versão dele. Isso não foi um estresse na nossa relação.

Com Marco Nanini e Edson Celulari em 'Dona Flor e Seus Dois Maridos'

MC Por que você se mudou com seu filho para Nova York?
GG Quando eu cheguei das filmagens de 'O Preço da Paz', em Curitiba, o Pedro já tinha se instalado em outra casa, eu fiquei uns dois meses vendo o que ia fazer, não sabia direito para onde voltar. Tenho um apartamentinho em NY, precisava estar anônima numa cidade, com outras referências. Mas adiei um problema. O certo seria talvez ter ficado, resolver as visitas com o Pedro. Essa viagem atrasou todo um processo, que acabou num processo real.

MC Como foi esse ano em Nova York?
GG Eu fiquei no apartamento com o Theo, fiz muitos amigos que tinham filhos. Eu ia com o Theo em parquinhos, museus. Depois de cinco meses, tive uma baby-sitter, fiz uns cursos de teatro.

MC Você alimentava a esperança de voltar com o Pedro?
GG Esperança de estar casada, não, mas ainda imaginava que ele era meu companheiro. Mas quando ele foi buscar o Theo e abriu o processo de guarda, pensei: 'Bicho, acabou'. Ali, vi que não havia sobrado nada.

MC Como ele conseguiu trazer o filho?
GG Ele conseguiu uma liminar para buscar o Theo e passar férias com ele, e isso que permitiu que eles viessem para o Brasil.

MC Qual foi a justificativa do juiz para manter o filho com o pai?
GG Quando você abre um processo de guarda, quem está com a criança fica com ela. É a guarda provisória. Como eu estava chegando no Brasil, ainda não tinha uma estrutura, acabou ficando provisoriamente com o pai, mas o provisório na Justiça dura dois anos.

MC O que ele alegava para querer ficar com a guarda do filho?
GG Prefiro não entrar em detalhes, até porque não eram coisas muito verdadeiras.

MC Como você respondeu às acusações de que não tinha condições psíquicas de cuidar do seu filho?
GG Ah, eu tive que passar por todas as pericias imagináveis, de assistentes sociais que vinham me entrevistar a laudos psiquiátricos. E falei: 'Vamos nessa'. Em vez de atacar, o que dá vontade, esqueci o Pedro e pensei em mim. É verdade, fiquei deprimida porque me separei, aconteceu. Mas o grau disso, se isso é normal, eu também quis analisar, para ter segurança de que tinha condições de cuidar do meu filho.

Com Marcos Paulo na minissérie 'O Primo Basílio', em 1988

MC Você chegou a duvidar disso?
GG Eu não duvidava do meu amor, do meu instinto, mas tem uma hora em que é tão violento... Pô, como eu não podia ver meu filho? E tinha que ser uma lady. Não adiantava espernear. Quanto mais eu enlouquecesse, aí, sim, justificaria a alegação de ser uma desequilibrada.

MC Em que você se apegou para suportar isso tudo?
GG Acho que em Deus mesmo. Eu fazia ioga, fazia psicanálise três vezes por semana, mas chega uma hora em que você precisa de algo que alimente seu coração, porque não dava, era demais! Eu pensava: 'Não matei ninguém, que provação é essa?'. Eu estava perdendo tudo, tudo, só faltava perder a minha vida. E teve uma coisa espiritual, de pessoas legais surgirem no meu caminho. Porque você tem tudo para ser massacrada, para pensarem: 'Pô, é uma looser [perdedora]'. Foi um strike geral.

MC Como você se fazia presente na vida do seu filho?
GG Fora os dias de visita, eu tentava telefonar, mandava um fax, um bilhete para a escola, com um desenho. Tentava mostrar para ele que a mamãe estava aqui, que a mamãe não estava abandonando ele. A sorte foi que o processo acabou antes de ele estourar.

MC Acha que ele ficou marcado?
GG Com certeza. Ele já estava ficando ansioso com aquela vida para lá e para cá. Foi exigido um laudo psicológico. O Theo sofre ainda pelas circunstâncias, mas graças a Deus a estrutura dele está preservada.

MC O que você aprendeu com essa experiência?
GG Quando ganhei a guarda definitiva, há seis meses, senti uma felicidade tão grande que tenho que fazer esforço para lembrar das coisas ruins. Mas, quando senti que tudo estava desmoronando e todas as armas que eu conhecia não funcionavam, eu vi a fragilidade que a gente é. Provei do abandono divino total, e não era ninguém me abandonando, era eu não conseguindo receber nada. As pessoas estavam aí, mas eu não conseguia me comunicar, estava muito infeliz. Tive que me virar do avesso, e agora me sinto mais forte.

MC Em entrevista à revista 'Trip', Pedro Bial disse sobre o casamento de vocês: 'Acho que a gente comete enganos na vida, e ambos se enganaram'. Foi um erro?
GG A gente teve dois anos felizes, e temos um filho que é o meu maior tesouro. Erro... Talvez tenha sido um erro de expectativas, de cálculo. Porque quando é um erro você identifica em uma noite, duas. Mas se fica com uma pessoa um ano, dois, se tem um filho, aí o erro está em você, né? Ficar assim, errando todos os dias...

MC Você ainda sente admiração por ele?
GG Admiração eu não tenho mais. É uma coisa que eu tinha muito, pelo personagem que ele era no jornalismo. Mas, como eu amei muito o meu pai, fico feliz de o Theo ter o pai. Gosto quando é o Pedro que vem buscar o filho. Quem sabe eu tenha ido embora para NY para chamar a atenção do Pedro para o filho dele? Se o pai do meu filho é certo, errado, não importa. Metade dos genes dele vieram desse pai.

MC Vocês se falam?
GG Houve um alívio com o fim do processo. Quando você sai daquela guerra, os ânimos acalmam. Consegui combinar coisas sobre o Theo sem advogado, mas sem intimidade. Não fiquei com ressentimentos, porque a felicidade foi maior. A sensação de recuperar a guarda foi a de que tiraram uma espada que atravessava meu corpo, foi como se eu tivesse parido de novo. Não tive desejo de vingança. Todo mundo pagou o que tinha que pagar, ou vai pagar um dia. Eu com certeza paguei.

Com o filho, Theo, no ano passado

MC Você ainda tem o sonho de viver pelada na Dinamarca com um monte de filhos, como disse uma vez?
GG [risos]. Tenho, viu? Antigamente tinha um comercial de margarina que era assim, o menino loirinho peladinho correndo na grama, o pai, a mãe, e à noite acendia uma luzinha numa casinha, a família toda se reunia para comer. Acho que eu me realizaria de duas maneiras: ou no meio do mundo fazendo arte, ou então casada, feliz, com cinco filhos vivendo pelados na Dinamarca.

MC Qual foi o maior amor que você viveu?
GG Ah, eu tive histórias lindíssimas de amor. Não me arrependo de nenhuma. Mas vontade de ter filho, eu só senti duas vezes: uma com quem eu tive filho, e outra com um alemão, médico. Com ele cheguei a pensar em morar em Berlim.

MC Hoje, você é uma mulher apaixonada?
GG Sou. Passional até. Tenho o amor do meu filho, que é incrível, estou feliz com minhas conquistas internas e de trabalho. Mas não estou namorando. Depois do Pedro, tive alguns amores, e namorei o Vinicius Viana por um ano. Ele é escritor, colabora com o Manoel Carlos. Ele foi fundamental na minha volta para o Rio, sempre me deu força. Foi uma relação positiva, dessas que ficam para o resto da vida.

MC O que mais te dá prazer?
GG Uma boa noite de sexo [risos]. Acho que hoje em dia consigo ver o sexo com mais humor. Não o sexo sem afeto. Não cheguei a esse nível de descompromisso, porque depois que você é mãe teu instinto de preservação é maior.

MC Como assim?
GG A sua vagina, o seu sexo, não é qualquer homem que invade aquele espaço. O homem ejacula, aquilo sai de dentro dele e é mulher que recebe, que vai receber um filho, ou uma doença. O esperma fica dentro do corpo dela. Tem camisinha, mas acho que ainda tem que ter um mínimo de afeto, de confiança. Pode parecer machismo, mas não é. Quando a gente tem filho fica tudo muito ligado, você tem uma preocupação maior com quem entra na sua vida.

MC Como você emagreceu 7 kg antes de fazer a novela?
GG Fiz a dieta da proteína. Mas foi um conjunto: quando desestressei, dei uma enxugada. Acho que engordei porque engoli muito sapo [risos].

MC Como você se avalia, depois de tudo o que passou?
GG Às vezes eu não me reconheço no espelho. Tenho mais cara de mulher, ainda estou 3 kg acima do peso. Mas me vejo como uma sobrevivente muito feliz. Estou contente porque, nos últimos cinco anos, parecia que minha vida estava parada. É legal ver que, se a alma não é pequena, a vida nunca está parada.

MC Quais são suas ambições agora?
GG Bom, antes eu queria ser a maior atriz do mundo [risos]. Hoje estou tão humilde que, por enquanto, nem me permito ter ambição. Porque as coisas que eu mais queria já reconquistei: meu filho e minha sanidade de alma. A escolha mais importante da minha vida foi meu filho: eu escolhi ter, escolhi ficar, escolhi ter de novo. E que escolha linda. Pode ser que eu não seja uma atriz internacional, mas sou a mãe do Theo.

Produção: Maria Candida Teixeira

Beleza: Marcio Portela para o salão Crystal

Fonte: https://glo.bo/Mz2JrF