Entrevista com Giulia Gam - Revista Perdizes
Por Mauro Boimel
Fotos João Caldas e Divulgação
Matéria Publicada na Revista Perdizes - Edição 61 - Abril 2012
Atriz Giulia Gam conduz fábula no Tuca
Quando ainda era apenas uma adolescente, a atriz Giulia Gam já encarava os holofotes de um teatro na peça “Romeu e Julieta”. Passados quase 30 anos de carreira, a atriz está se apresentando no Tuca ao lado de uma orquestra e de vários bonecos no infantil “Pedro e o Lobo”. Versátil, Giulia exibe um curriculum artístico invejável, tendo trabalhado com alguns dos principais diretores teatrais do Brasil, tais como Antunes Filho, Gerald Thomas, Aderbal Freire, Zé Celso Martinez e Muriel Matalon (que também dirige o elenco do atual espetáculo). Giulia já contracenou com alguns dos principais nomes da televisão brasileira como Fernanda Montenegro, Edson Celulari, Marco Nanini, Beth Coelho, Marieta Severo, Andréa Beltrão, entre tantos outros. Giulia teve vários papéis em destaque em sua trajetória, como suas participações nas novelas “Mandala”, “Vamp”, “Que rei sou eu”, “Ti Ti Ti” e em séries como “Primo Basílio” e “Dona Flor e seus dois Maridos”. Mas uma das personagens mais marcantes de sua carreira foi como “Helena”* de “Mulheres Apaixonadas”, que lhe rendeu reconhecimento de público e crítica. Atualmente, Giulia se divide entre as cidades do Rio de Janeiro, onde grava sua participação na novela das seis da TV Globo, “Amor Eterno Amor” e São Paulo, onde se apresenta aqui no nosso bairro, no Tuca.
Revista Perdizes – Giulia, conte como ocorre a sua apresentação em “Pedro e o Lobo”.
Giulia Gam - Eu atuo quase como uma cantora, uma narradora da trama. Eu conheço muito as músicas da peça. Eu tinha de cor toda a partitura do espetáculo. Todos têm sua hora certa para entrar, os bonecos, eu, os músicos. Se um erra, é igual ao efeito dominó, acaba prejudicando todo mundo, desanda tudo! (risos). A gente apresenta várias coisas na peça: você ouve uma orquestra tocando; vê uma pessoa contando o espetáculo, tem ainda a envolvente participação dos bonecos. Todos nós ficamos emocionados por voltar a fazer esta peça, que já tinha sido apresentada no Ibirapuera há alguns anos. Os pais se envolvem muito, ficam encantados, pois muitos deles, lá no passado, ouviram, até mesmo na vitrola, o disco de “Pedro e o Lobo”. Esta faceta do teatro é muito especial. Não tem nada mais incrível para um ator do que quando a mágica do espetáculo acontece.
Revista Perdizes – Giulia, conte como ocorre a sua apresentação em “Pedro e o Lobo”.
Giulia Gam - Eu atuo quase como uma cantora, uma narradora da trama. Eu conheço muito as músicas da peça. Eu tinha de cor toda a partitura do espetáculo. Todos têm sua hora certa para entrar, os bonecos, eu, os músicos. Se um erra, é igual ao efeito dominó, acaba prejudicando todo mundo, desanda tudo! (risos). A gente apresenta várias coisas na peça: você ouve uma orquestra tocando; vê uma pessoa contando o espetáculo, tem ainda a envolvente participação dos bonecos. Todos nós ficamos emocionados por voltar a fazer esta peça, que já tinha sido apresentada no Ibirapuera há alguns anos. Os pais se envolvem muito, ficam encantados, pois muitos deles, lá no passado, ouviram, até mesmo na vitrola, o disco de “Pedro e o Lobo”. Esta faceta do teatro é muito especial. Não tem nada mais incrível para um ator do que quando a mágica do espetáculo acontece.
Você tem uma ligação muito forte com a música, certo?
Sim, por isso sinto muito prazer em fazer esta peça. Eu estudei música por quatro anos. É muito legal você ser regida e eu me sinto como se estivesse em uma mini-ópera. É tão gostoso isso! E até é uma frustração para mim não ter continuado com a música. Foi meu primo que me iniciou na música. Eu toquei em um espetáculo onde a Lilia Cabral estava se formando como atriz, conheci o Derico do “Sexteto do Jô” lá e nós fomos até namorados. Inclusive, sempre que eu vou no “Programa do Jô”, ele tira sarro disso, sobre a flauta do Derico (risos).
Ter um filho te ajudou de alguma forma nesta peça?
Com certeza! Ser mãe me ajudou muito a participar de um espetáculo infantil. Nós somos um grupo que já trabalha há bastante tempo e tem muita história. Eu sempre estive muito próxima, por exemplo, do Gerald Thomas, do Antunes Filho, do Zé Celso Martinez e da Beth Coelho, que sempre foi muita companheira de palco, a gente sempre esteve muito próximas. Apesar de estar um tempo afastada de São Paulo por morar no Rio de Janeiro, esta foi uma família que eu escolhi, junto também com a Daniela Thomas e com a Muriel Matalon, que agora está nos dirigindo neste espetáculo. E todas nós, em uma época ficamos grávidas e quando ela me ligou na primeira vez que montamos este espetáculo há quatro anos, meu filho estava com 9 anos, então influenciou sim, isso nos motivou bastante. O objetivo deste espetáculo, originalmente, era apresentar a música para as crianças. Hoje meu filho já está com 14 anos, então atualmente já não há tanta influência pessoal. Mas foi muito legal mostrar para ele uma orquestra, um musical. Ele adorou da primeira vez. O espetáculo toca todo mundo. Eu faço agora para que as crianças venham também ao teatro.
Giulia, como você decidiu ser atriz?
A minha ideia inicial era fazer mímica, não era teatro, nem ser atriz. Eu vi isso na França e aqui no Brasil, me apaixonei pelo espetáculo. Eu me transportava em uma criança totalmente encantada quando eu via a mímica.
Qual foi a sensação de ter estreado tão cedo no teatro?
Estreamos com “Romeu e Julieta” aqui em 1984, quando eu ainda era adolescente, mas antes estreamos na Austrália! Eu tinha vários desejos, fiz esgrima, eu adorava cavalos, sempre fui muito moleque. Mas acho que esta opção pela carreira de atriz teve a ver com o estímulo que meus pais me deram. Eles bancaram, literalmente, este desejo. Talento, vocação são coisas que você tem que ter paciência, disciplina. Vi o filme “Pele de Asno”, quando era criança com a Catherine Deneuve, pelo menos seis vezes. Então isso influenciou também. Eu me lembro de estar na inauguração do palco do Clube Pinheiros, quando eu tinha uns 12 anos e decidi que gostaria de estar ali, em cima de um palco. Como, ou fazendo o que, eu não sei, mas eu queria estar em cima dele (risos). Eu gostava dos espetáculos que vinham da França e meu pai me levava. Quando eu fiz escola de teatro, conheci o Marcelo Tas, que foi meu padrinho várias vezes, em várias situações, ele me apresentou o Antunes Filho, quando eu tinha 15 anos. Foi o Tas que me indicou para o papel de “Julieta” no romance. O Antunes queria uma atriz nova, iniciante. Meus pais me deram a maior força, eles viram que eu tinha boa relação com o palco. Fiz o teste e passei. O Antunes adorou e falou, “nossa esta menina é muito espontânea (risos)”. Inclusive, ele criou uma Julieta mais espontânea, mais leve, jovem, moleca, do que só aquela romântica. E fez um sucesso incrível. Eu era a mais jovem de toda companhia de teatro.
Qual sua relação como bairro de Perdizes e como é atuar no Tuca?
Eu tive uma ligação muito forte com esta região, principalmente na Rua Monte Alegre, porque era onde minha “turma” se concentrava (risos), há cerca de 20 anos. Eu “peguei” o Tuca na reinauguração dele. Eu tive uma ligação muito grande com o Haroldo de Campos, da poesia concreta. O Haroldo morava na Monte Alegre e dava aula na PUC. O cineasta Julio Bressani foi quem me apresentou. O Gerald Thomas também bebia na fonte dele, assim como Caetano Veloso, quando falou de São Paulo. Esta turma toda veio do concretismo. Eu vinha muito aqui. A última vez que estive aqui no Tuca, foi muito marcante para mim, quando ocorreu uma celebração para o Haroldo, após a morte dele. Veio gente da Alemanha, da França... Então foi o Haroldo que juntou toda esta turma, que inclusive teve também o Arnaldo Antunes. Nós éramos dark naquela época, todos se vestiam de preto (risos). Nesta época também namorei o Otavio Frias, da Folha de São Paulo, por cinco anos. Foi uma época muito bacana. A Muriel morava em Higienópolis, que é onde moro hoje quando estou em São Paulo, ela também fazia parte deste pessoal. Hoje não venho muito em Perdizes, mas adoro este bairro! Faz tempo que não venho para cá, principalmente por morar no Rio de Janeiro. Mas é muito legal voltar a atuar, ainda mais aqui no Tuca. Fazia quatro anos que eu não atuava no teatro. Mas posso dizer que a PUC marcou muito minha vida, então minha ligação com Perdizes é muito forte. É o bairro onde realmente a gente se juntava.
Fale sobre a origem da sua família e conte onde você nasceu?
Meu pai era dinamarquês, meu nome, Gam, é da Dinamarca. Eu nasci na Itália. A cultura teatral veio dos meus pais para mim, já que sou filha única. Eles gostavam muito de teatro, viam sempre. Minha mãe também adora ópera. Com cinco anos eu vi meu primeiro espetáculo, que foi uma ópera. Eu nasci em Perugia, na Itália, meus pais moraram dois anos lá. Eu tenho a naturalidade italiana, mas não sou italiana, já que vim para o Brasil bem pequena, quando tinha apenas oito meses de vida.
Giulia, qual sua relação com a fama? Como você lida com ela?
Eu sempre tive um tipo de treino de tentar não ter noção do quanto eu posso ser famosa, de ser reconhecida, de ter prestígio. Porque se não, eu poderia ficar um pouco engolida por isso, principalmente quando se é jovem, a fama pode até acabar com você. O dia que eu estava fazendo “Mandala”, ainda no início da carreira, desci no lobby do hotel onde eu estava, todo mundo ficou olhando para mim, foi uma coisa absurda esta sensação da fama. Nem ônibus eu podia pegar! Era uma loucura. Só hoje, após quase 30 anos de carreira, é que eu tenho uma noção melhor de tudo isso, desta loucura que é a fama.
Falando dos seus trabalhos, sua trajetória conta com mais de 50 trabalhos em cinema, teatro e, principalmente na TV. Quais você poderia destacar?
Tenho muito orgulho na minha carreira de ter feito os papéis da Vera Fischer, em “Mandala” e da Sônia Braga, em “Dona Flor e seus dois Maridos”, quando jovens. Isso é muito bacana. Eu “fiz” dois símbolos sexuais de várias gerações. Eu que sempre fui vista “apenas” como uma garota simpática, não me via como uma pessoa sexy e interpretei os papéis de duas das mulheres mais sensuais do Brasil, verdadeiros ícones de beleza. Tenho muitos trabalhos especiais na minha carreira, mas um deles certamente foi a minha participação em “Mulheres Apaixonadas”, de 2003, como a “Heloísa”. Esta novela foi reprisada em vários países e repercutiu muito aqui também. O tema “ciúmes” é muito importante na nossa sociedade e com a novela, o número de frequentadoras do Mada, Mulheres que Amam Demais Anônimas, praticamente quintuplicou.
Jogo Rápido
Filmes: “Pele de Asno”, “A Vida do Freud”, “Tentação de Cristo”
Livros: “Grande Sertão Veredas, “Montanha Mágica, “Demônio do Meia-Dia”
Um sonho: Voar
Frase: “A gente é uma coisa dentro da gente, que a gente nem sabe o nome”
Arrependimento: Tenho muitos arrependimentos, mas a gente tem que aprender a se perdoar e também a pedir desculpas
Atriz/Ator: Fernanda Montenegro, Beth Coelho, Marília Pêra, Marco Nanini e Raul Cortez .
Diretor: Antunes Filho, Gerald Thomas, Aderbal Freire, Zé Celso Martinez e Muriel Matalon
Maior defeito: Tenho vários, alguns são: medo de machucar os outros, analiso muito os outros, dificuldade de se expressar
Qualidade: Lealdade, sou amorosa e tenho boa intuição
Estilo de Música: Ópera, música erudita, jazz, música popular, rock
Pedro e o Lobo
Teatro Tuca
Rua Monte Alegre, 1024
Sábado e domingo, 16h
Tel.: (11) 4003-1212
www.ingressorapido.com.br | www.teatrotuca.com.br
Em cartaz até 27/5
*O nome da personagem da Giulia Gam em Mulheres Apaixonadas, era “Heloísa” e não “Helena” como disse o autor da matéria.
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Fonte: https://www.revistaperdizes.com.br/184.php