Entrevista com Giulia Gam - Revista Playboy

01/07/2003 01:22

Depois de cinco anos afastada das novelas, a atriz é campeã de audiência no horário nobre, superou o fim do casamento com Pedro Bial e se diz feliz de dar medo

Quem espera encontrar semelhanças entre a deprimida, ciumenta e desequilibrada Heloísa, da novela Mulheres Apaixonadas, da TV Globo, e a atriz Giulia Gam se decepcionará. É verdade, ela passou por momentos sombrios desde o fim do seu casamento com o jornalista Pedro Bial, em 1999. Mas agora anda irresistivelmente bem-humorada. Motivos não faltam. Do lado pessoal, ela exibe 7 quilos a menos depois da crise que a fez engordar, está instalada em uma cobertura no Leblon, a duas quadras da praia, onde detém a guarda definitiva do filho, Théo, de 5 anos, pela qual brigou na Justiça por dois anos. Profissionalmente, as coisas não poderiam estar melhores. A novela das 8 bate recordes de audiência, e toda semana ela apresenta em São Paulo a peça Os Sete Afluentes do Rio Ota. Giulia Gam brinca que anda até com medo de tanta felicidade.

Medo de ser feliz? É, ela assume que sempre foi muito ansiosa. Desde que entrou para o teatro, aos 15 anos, na cabecérrima companhia do diretor Antunes Filho, ela alimentava uma certa paranóia de estar no olho do furacão, junto aos artistas mais influentes questionando a existência e o futuro da humanidade. Coisa de DNA, que deve ter sido herdado do pai, o engenheiro-arquiteto de origem dinamarquesa José Carlos Gam, que largou tudo para estudar arte na Europa. Giulia pegou do pai esse clima do nostálgico existencialismo francês, lá da época de Sartre. O que faz dela uma romântica e sonhadora. Quer mudar o mundo com o teatro, quer mudar o teatro com novos formatos, como as leituras que promove no shopping Rio Design Center, sem ganhar nada para isso. Quer mudar a televisão, fazendo novela com a mesma disposição com que embarcou nas viagens teatrais de Antunes, Gerald Thomas e José Celso Martinez.

E, depois de 36 anos se cobrando a performance dos gênios da interpretação, relaxa e chega à conclusão de que bom mesmo é ser símbolo sexual. "Que inveja da Sharon Stone", diz ela às gargalhadas, concluindo as sessões de entrevista que concedeu, entre as muitas horas de gravações na Globo, à jornalista Vanessa Cabral, no varandão de sua cobertura. A atriz que nasceu em Perúgia, cidade italiana onde seu pai estudava pintura, e se criou entre os descolados dos Jardins, em São Paulo, acredita que já provou seu talento profissional. Agora quer aprender, com as cariocas que viraram suas vizinhas há dois anos, a ser gostosa.

PLAYBOY – Na época da minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, você chegou a ser musa. Depois passou os últimos cinco anos longe da televisão. Foi difícil?

GIULIA – Estava realmente no auge ali. Aos 30 anos, eu já tinha um reconhecimento do meu talento, mas com esse personagem entrei no campo da musa, de sensualidade, de fantasia. Jamais me imaginei como símbolo sexual, mas me deu muito prestígio. Fiquei com muito poder dentro da Rede Globo e estava lindona. E o perigo é você se deslumbrar com esse mundo.

PLAYBOY – Você se deslumbrou?

GIULIA – Dentro da Globo, eu me sentia poderosa. Sempre me policiei para não abusar do poder, porque quando se está no ápice é que se pode tomar o maior tombão [risos].

PLAYBOY – Na prática, como era esse poder?

GIULIA – Negociei um excelente salário, por exemplo. Estava com dinheiro, com uma vida estável, casada [com Pedro Bial], tudo jóia. Depois que o casamento acabou, o período que passei em Nova York, somente com o meu filho, me fez cair na real: "Como seria a vida de prazeres simples, numa medida menor?" É ruim acreditar no personagem da musa e ter uma relação sempre de atriz com as pessoas. Acho que amadureci muito nessas férias, sofridas [risos], em Nova York. Me descondicionei dessa coisa da atriz famosa. Lá, eu era mais uma mãe com o filho na pracinha.

PLAYBOY – Por que você nunca quis ter contrato fixo com a TV Globo?

GIULIA – Por minha opção, e muito influenciada pelo senhor Antunes Filho [gargalhada].

PLAYBOY – Contrato com a TV Globo deve ser como vender a alma ao diabo para o Antunes, né?

GIULIA – Totalmente. E eu incutida dos conceitos dele até as últimas células do meu corpo... Fui trabalhar com ele aos 15 anos, completamente virgem [risos]. Só mesmo envelhecendo para conseguir se libertar de tudo aquilo. Antunes era rígido, falava do aburguesamento do ator. O ator não podia ter um salário fixo para não se acomodar. Isso é um ranço dos anos 60, panfletário e de uma geração que não é a minha. Antunes era muito provocador.

PLAYBOY – Tanto questionamento da vida não esgota?

GIULIA – Esgota muito. Se bem que ele dizia que a pentelha era eu, que questionava tudo.

PLAYBOY – Agora você acha melhor ter salário fixo, né?

GIULIA – É, se você não tem que se preocupar em como sobreviver, melhor. Antes, eu era acostumada a ganhar um dinheiro, guardar e viver um tempo com aquela grana. É legal ter essa inquietação na juventude porque é quando se tem energia, não tem laços, não tem filhos, ninguém depende de você, quando se é livre mesmo. Pode cair que levanta mais fácil, pode pirar. Eu me dei até os 30 anos para ser diletante. Ficava livre para trabalhar naquilo que achava mais interessante na Globo e aproveitava para fazer cinema, que eu nem fiz muito, ou teatro e viagens. Aliás, viajei muito, até demais. Agora, estou há dois anos no Rio. Nunca estive tanto tempo numa mesma casa, com uma rotina. Mas é que muda tudo quando se tem filho. [A doméstica Eloá chega e pergunta o nome do cigarro que ela quer que compre. "Samsom ou Drum", responde Giulia.]

PLAYBOY – Como é estar acostumada a aventuras e, de repente, se ver presa a uma rotina?

GIULIA – Aprendi com o casamento que eu podia construir uma base e dali gerar coisas. A gente até fez um filme [Nos Caminhos do Rosa]. Antes eu ficava o tempo todo atrás do que estava acontecendo no mundo. O que gera muita ansiedade, uma paranóia.

PLAYBOY – Você tinha essa paranóia?

GIULIA – Tinha. E, com o casamento, eu começava a construir uma família. A gente morava com uma enteada e uma filha do Pedro, que vieram de Londres para morar com a gente [filhas do Pedro Bial com a jornalista Renné Castelo Branco, com quem ele foi casado por dez anos].

PLAYBOY – Como foi ser madrasta?

GIULIA – Primeiro foi um susto. Nem tive lua-de-mel. Fui morar com um cara pela primeira vez e, dois meses depois, duas crianças, uma de 9 anos e outra de 14, estavam com a gente. Tentei respeitar a história delas, fiz de tudo para não ser invasiva. E foi muito lindo porque, por eu ser mais nova do que o pai e a mãe delas, nossa relação era quase de três garotas. Mesmo assim, foi difícil para mim quando a mãe delas voltou para o Brasil, era como se eu tivesse perdido as minhas meninas, sabe? Não tinha a ilusão de que eu substituiria a mãe delas. Mas você cria um apego grande, e sofre depois. Quando a mãe veio morar próximo, chegou um momento em que tinha que decidir se as meninas iam morar com ela ou com a gente. Enfim, mas sempre procurei entender que era uma situação difícil para a mãe delas também. Nossa, hoje que eu tenho filho, entendo um monte de coisa que não entendia na época.

PLAYBOY – O que você não entendia?

GIULIA – Eu me sentia muito excluída. Talvez hoje em dia não me sentisse assim. Mas quando você é a nova mulher da pessoa, pode ter ciúmes da cumplicidade do seu marido com a ex.

PLAYBOY – Você sentia ciúme?

GIULIA – Ah! Eu me sentia de fora da festa, sabe? Hoje, vejo que você pode ter uma relação muito forte com o pai do seu filho, sem necessariamente uma intimidade de homem e mulher. Embora tenha mulheres que usem os filhos para chamar a atenção do pai. O que não é nada honesto, né? É tão louco, você só percebe isso depois que tem filho. Mas, enfim, a coisa se complicou porque, no meio disso tudo, eu engravidei. Aí você fica também querendo saber qual é o seu pedaço, né?

PLAYBOY – Também, esse homem era disputado!

GIULIA – Muito! Muitos casamentos, muitos filhos, muita mulher [risos]. Ele tinha que ser muçulmano.

PLAYBOY – E como é que você se viu no papel oposto, quando o seu filho teve que conviver com a nova namorada do pai dele?

GIULIA – É muito difícil [se serve e toma um gole do café]. Eu sempre achei que devia conhecer a primeira mulher do Pedro, uma vez que as crianças moravam comigo. Até para clarear qualquer sentimento mal-resolvido [pausa e enfatiza as sílabas]. Eu acho o seguinte: enquanto você não tem filho, pode tudo. Agora, depois que você tem filho, as relações todas têm que ser muito claras porque, se a coisa fica velada ou não explicada, são muitos sentimentos envolvidos. E todos esses sentimentos, de pai, mãe, madrasta, os seus, os meus, os nossos, já são delicados por si. Muitos sentimentos ficam velados e as crianças acabam sendo instrumentos de recado.

PLAYBOY – Sem terem maturidade para isso.

GIULIA – É. É ótimo quando você tem uma separação clara, na qual realmente não ficou nenhuma rusga. Aí, quando entra uma terceira pessoa na história, fica todo mundo seguro. Quando não há essa clareza, você passa por situações complicadas.

PLAYBOY – Como o que, por exemplo?

GIULIA – Durante o processo de guarda, eu tive que ficar longe do meu filho sem saber quem estava cuidando dele, o que davam de comida para ele, se o levavam ao médico, se ele sofria ou não. Enfim, eu não tinha acesso a nada que acontecia com o meu filho. É desesperador.

PLAYBOY – Você chegou a telefonar ou tentar algum contato com a Isabel [Diegues, atual mulher de Pedro Bial]?

GIULIA – Tentei, mas foi em vão. Muitas coisas nesse processo foram dolorosas. Eu não sabia, por exemplo, o que estava sendo contado para o meu filho. Não sabia se diziam que eu o abandonei ou sei lá. Então, quando o processo se resolveu, o meu alívio foi saber que a vida do Théo poderia, enfim, ser colocada em ordem. E é tão maior a vida do meu filho, que não sinto nenhuma vontade de vingança.

PLAYBOY – Você se sentiu frustrada quando teve certeza de que o casamento não tinha mais volta?

GIULIA – Posso estar errada de falar por ele, mas acho que nós dois temos uma frustração de não ter dado certo. Não sei qual é a versão dele para essa história, mas imagino, por algumas conversas que a gente teve não oficiais dentro da Corte, que ambos ficamos com a frustração de uma coisa que teria tudo para dar certo e a gente não conseguiu fazer essa passagem na relação, depois que nosso filho nasceu. Agora, a sensação de que eu não podia mais contar com ele e de que eu estava sozinha no jogo, senti quando cheguei ao Brasil e fui surpreendida com o processo de guarda. Vi coisas durante o processo que eu falei "realmente já não somos mais cúmplices nem parceiros". Aí eu percebi "não posso estar com nenhuma expectativa, seja afetiva, seja de proteção". Ali eu tremi nas pernas, falei "caramba"!

PLAYBOY – Como é que é você amar um homem e depois ter que se deparar com ele em situações tão...

GIULIA – [Sem esperar a pergunta acabar.] É muito estranho. Tenho a sensação de que eu conheci uma pessoa, em 1996, e que encontrei no tribunal outra. Ficou uma lacuna. Durante o processo, eu pensava: é o pai do meu filho, com quem não tenho nenhuma intimidade.

PLAYBOY – E agora?

GIULIA – Incrível porque, uma vez que acaba o litígio, é como se acabasse a platéia. Fica normal, afrouxa, porque não tem mais o jogo de um contra o outro, de quem vai ganhar. O que é muito cruel no tribunal é que um tenta provar que o outro é muito pior [riu]. Embora eu tivesse a chance de ter meu filho de volta mais rápido, optei por não agredi-lo. E eu queria ter a minha consciência tranqüila de que não prejudiquei o pai do Théo em nada.

PLAYBOY – Você acha que esse processo prejudicou a sua imagem?

GIULIA – Acho que algumas pessoas na TV Globo podem ter ficado com dúvidas "será que ela vai conseguir trabalhar?" Mas as pessoas mais próximas e os atores experientes, de teatro, me acolheram muito bem.

PLAYBOY – O Manoel Carlos [autor de Mulheres Apaixonadas] a convidou para o papel da Heloísa.

GIULIA – Ele me ligou. Eu não o conhecia pessoalmente, e ele foi muito carinhoso, me perguntou como que eu estava, se o meu filho estava comigo e se eu achava que tinha condições de encarar uma novela. Porque é um trabalho brutal, esquemão industrial. Você não pode ficar carregando seus problemas para lá. Fiquei muito feliz porque senti confiança no convite dele. E entrei nessa novela com humildade. Sabia que estava há muito tempo sem trabalhar, que as pessoas queriam me ver como atriz e eu mesma queria ver como eu me sairia. Eu sabia que tinha que aproveitar essa oportunidade.

PLAYBOY – E aí todo esse sucesso na novela das 8?

GIULIA – É, eu fico até com medo de pensar nisso, sabia? Mas caralho! Muito legal. Se for pensar espiritualmente, poxa! É um retorno muito bom.

PLAYBOY – Não dá um comichão, uma vontade de fugir correndo com tanta exposição?

GIULIA – Desde a morte do meu pai [em 1994], percebi que tudo bem ter grande satisfação com o meu trabalho, mas e as pessoas que realmente importam na sua vida? Comecei a dar mais valor aos amigos, aos vínculos afetivos.

PLAYBOY – Quem eram as pessoas que realmente importavam na sua vida?

GIULIA – Pessoas que tinham saído das companhias do Antunes e do Gerald [Thomas, diretor de teatro], como a Bete Coelho, por exemplo. A minha turma de São Paulo...

PLAYBOY – Da época daqueles famosos saraus na sua casa nos Jardins?

GIULIA – É [risos]. Loucura, né? A Folha de S.Paulo me chamava de Olívia Guedes Penteado, uma mulher da sociedade, quatrocentona, que chamava intelectuais para a sua casa. Na época, eu ficava tão puta, hoje acho o maior barato [risos]. Quem me dera se eu fosse a tal Olívia Guedes, uma mecenas das artes. [Acende um cigarro.] Mas foi estranha a morte do meu pai. Ele teve uma coisa fulminante, não sei se foi um aneurisma ou um derrame. Foi encontrado assim: tinha uma luz acesa e ele estava caído no chão da cozinha.

PLAYBOY – Ele morava sozinho?

GIULIA – Morava. Meu pai e minha mãe tinham uma relação de família, mas cada um morava na sua casa. Eles eram muito engraçados. Meu pai morou dez anos em Paris e, de férias no Brasil, se apaixonou pela minha mãe. Ela fazia psicologia e conseguiu uma bolsa na Sorbonne. Eles se casaram, aí meu pai achou que o papel criava muitas imposições à relação e se desquitaram uma semana depois. Meu pai era demais! Sou apaixonada, completamente apaixonada por ele! [ri].

PLAYBOY – Difícil é arranjar um homem como o pai.

GIULIA – Impossível! Sempre acho parecido. Meu pai era um homem especial, de origem dinamarquesa, engenheiro-arquiteto, largou tudo e resolveu estudar pintura na Itália. Todo mundo achou que ele estava doido. Minha mãe foi morar com ele em Perúgia, onde eu nasci.

PLAYBOY – Por isso você é tão romântica?

GIULIA – Não dá para não ser romântica. Meu pai me contava umas histórias de suas viagens de moto pela Grécia. Era um aventureiro também. E, na época do existencialismo, meus pais tinham essa coisa Sartre e Simone de Beauvoir, e todas aquelas discussões do espaço na relação [ri]. Eles viveram Paris da década de 60. Enfim, minha mãe sempre usou o nome Gam e eles nunca fizeram outras famílias. Não entendo, apesar da minha atual situação, o que é ter pais que têm filhos de outros casamentos, e madrastas e enteados. Na minha cabeça, ainda existe o modelo antigo. Meus pais só resolveram morar separados quando eu tinha 18 anos e nem morava mais com eles. Não sofri por ser filha de pais separados. Não sei, por exemplo, como vai ser para o meu filho.

PLAYBOY – Logo depois que seu pai morreu, você se casou com o Pedro?

GIULIA – Acho que foi meio proposital [risos]. Conheci o Pedro quando ele fez um Globo Repórter sobre mim. Ele conheceu o meu pai, tiraram fotos juntos e criaram um laço muito forte. Logo em seguida, o Pedro foi para Londres. Mas toda vez que o via na televisão, minha família falava "aquele cara é bacana, hein Giulia?" [risos].

PLAYBOY – Rolava uma torcida.

GIULIA – É, eu não sabia nada sobre a vida dele, não sabia se era casado, se tinha filhos. Adorava-o como repórter. E, na minha cabeça, era um cara que meu pai aprovaria, sabe?

PLAYBOY – Quando vocês começaram a sair, ele já tinha se separado da Renné?

GIULIA – Pelo menos é o que ele me falava [riu].

PLAYBOY – Afinal, você teve depressão pós-parto?

GIULIA – Não. Acho que foi muita coisa que aconteceu ao mesmo tempo e que, agora, eu consigo separar porque não estou mais envolvida emocionalmente. Acho que tive as inseguranças e os sentimentos normais de uma mãe de primeira viagem. Mas nunca tive problemas em relação ao bebê, de trocar fraldas, dar banho ou rejeitá-lo. O que eu senti muito foi solidão.

PLAYBOY – O que provocou a crise no seu casamento? Ele perdeu o interesse por você, por exemplo?

GIULIA – Nunca conversei com o Pedro sobre o que aconteceu. A gente não deixou de se gostar, de ter interesse um pelo outro. Ao contrário, a cama até segurava a nossa relação. Acho que a gente não conseguiu foi passar do casal que se amava, apaixonado, e que vivia muito bem junto, trabalhava junto, com uma puta cumplicidade, para a coisa do pai, mãe e filho. Não fizemos essa passagem. Quando o Théo nasceu, eu me senti muito sozinha, via coisas erradas acontecendo que eu não conseguia consertar. Até porque não dependia de mim. Eu esperava que, quando nosso filho nascesse, a vidinha estivesse em ordem, que a nossa casa estivesse em ordem, que tudo estivesse em ordem. E, por mais que o Pedro falasse "calma, as coisas vão se ajeitar", na prática eu não via mudanças. Aconteceram coisas fora da nossa relação que acabaram mexendo, atrapalhando a estrutura da família. Coisas que não faziam parte da nossa vida durante os dois anos que a gente morou junto, e aquilo continuou.

PLAYBOY – Ele teve um caso com outra mulher?

GIULIA – Que eu saiba não. Acho que não. Pedro tinha essa fama de galinha, mas acho que não é isso mesmo. Houve uma ruptura brutal no comportamento dele e eu talvez não tenha tido a paciência necessária para esperar que melhorasse. Fiquei muito ansiosa para que tudo se ajeitasse e a gente voltasse a ser como antes. Tive essa ansiedade, essa aflição, essa angústia. Acho que eu fiquei muito exigente, não tolerei certas atitudes. E aí o casamento não segurou mesmo [pausa]. É difícil falar sobre isso, porque não estou falando só da minha vida [outra pausa]. Acho que eu não consegui me acalmar. Eu tinha sonhos de que a gente ia passear no Jardim Botânico, papai, mamãe e filhinho, sabe? Nos domingos fazer almoço, sei lá! [risos]. Acho que eu queria tudo o que não vivi nos 15 anos de dedicação quase que exclusiva ao trabalho. Achei que ia ter um resgate da minha infância.

PLAYBOY – Vocês chegaram a passear no Jardim Botânico?

GIULIA – Pouquíssimas vezes. Talvez umas três vezes.

PLAYBOY – Ele não tinha tempo?

GIULIA – Pedro trabalhava muito. Sei lá, talvez fosse muito difícil para ele, eu fui muito exigente com ele...

PLAYBOY – Exigente em que, exatamente?

GIULIA – Nisso, de ficar carente, de querer o marido mais próximo, de querer a sensação de proteção em volta de mim. Engraçado, quando eu ia com meu filho para a casa de uma amiga e me sentia protegida, ficava numa felicidade. Eu lembro que eu vi um filme, em Nova York, onde um homem que ia ter um filho perguntava: "O que eu posso fazer para o meu filho que vai nascer?" Aí, um outro pai mais experiente respondia: "Para o seu filho, nada, mas, para a mãe do seu filho, tudo". Sabe assim? Acho que para o homem é realmente complicado porque, quando a criança nasce, ele fica meio impotente na situação. Mas, para a mulher, é fundamental um agrado, um carinho. A mulher fica tão envolvida com o filho que só quer delegar as funções. Falo das coisas práticas. Se tiver que mudar de casa, que o marido procure um apartamento novo ou se tiver que arrumar uma empregada, que o marido ajude, sei lá [risos]. Eu só queria ficar com o meu filhinho, gostosinha, dando de mamar, o mais bucólica possível. E, naquele momento, você não pode acompanhar o marido, sair à noite, ir a festas. Você sente que não está mais participando do mundo, então não tem mais novidade, você não pode ser a atriz bacana, a mulher interessante, né?

PLAYBOY – Você terminou o casamento ou foi ele?

GIULIA – Fui me separando um pouco fisicamente. Fui ficando mais em São Paulo, depois fiz um filme em Curitiba. Quer dizer, eu não ficava mais aqui no Rio. Aí, depois de um tempo, ele conversou comigo que ou a gente morava em duas casas, mas continuava a namorar, ou terminava. Depois ele optou mesmo por se separar. E aí, quando eu não tinha mais casa aqui, fui para Nova York. Quis me afastar um pouco do Brasil para um lugar onde ninguém nos conhecesse, sabe?

PLAYBOY – É porque, além de tudo, ficar sabendo que ele saiu com fulana, fez e aconteceu...

GIULIA – É muito chato. Eu sabia que estava adiando um problema, porque a gente não tinha finalizado o casamento, assim emocionalmente. Pelo menos para mim, era muito difícil aceitar a separação. Quando você está envolvida, quando você tem expectativas ou quando está querendo que aquela pessoa trate você, se não mais como marido, pelo menos como um cara que é seu companheiro, seu cúmplice, que vai apoiar você, e ainda mais com quem tem um filho, demora para acordar e ver que vai ter que caminhar sozinha, com as próprias pernas.

PLAYBOY – Difícil porque você vinha naquela trajetória da mulher independente? E aí de repente...

GIULIA – Fiquei totalmente Amélia. [gargalhadas]. Depois que você tem filho, começa a questionar tudo. Mas teve um problema independentemente de tudo isso, que não diz respeito diretamente à nossa relação, que mudou tudo, que era difícil de lidar. Acho que, por essa coisa, a gente acabou se fragilizando. Tanto eu quanto o Pedro. E eu não consegui lidar com isso.

PLAYBOY – Você sempre puxa para você a responsabilidade de tudo?

GIULIA – Sempre puxei. Meu terapeuta fala "pára com isso, tem tantos outros fatores para cada coisa acontecer".

PLAYBOY – Essa culpa vem da infância?

GIULIA – [Pausa.] Engraçado, acabei de ter um insight. Meu analista vai adorar [risos]. Falando assim tão psicanaliticamente, me veio uma imagem que eu sou filha única e meus pais me expunham muito à relação deles, aos questionamentos de casal. Acho que eu me sentia muito responsável, como se eu fosse um elo entre os dois.

PLAYBOY – Sentia que segurava a relação deles?

GIULIA – Tenho muito medo de agredir o outro. Vou tentar explicar, porque é um sentimento que me veio agora e nunca tinha pensado realmente sobre isso. Para mim, é muito angustiante não saber a verdade. Por exemplo, exatamente por ter duas pessoas que às vezes argumentavam uma contra a outra, e eu ficava dividida entre quem tinha a razão, então ficava com a sensação de que a verdade me escapava. Olha, é totalmente psicanalítico o que eu estou te falando, eu nunca senti isso [risos]. Isso me dava uma ansiedade muito grande, de não saber o que era o certo, porque quando você é criança você quer a verdade. Talvez, muito cedo, eles me expuseram às teorias deles... [risos].

PLAYBOY – Muito existencialismo para uma criança só.

GIULIA – É [risos]. Para eles, poderia parecer normal, mas como eu era uma criança isso talvez tenha me gerado muita ansiedade. Vou levar isso pro meu terapeuta urgente! [gargalhadas]. Então eu tenho dificuldade de pôr a culpa no outro, sabe? Prefiro assumir de uma vez a carga toda, daí pelo menos eu saiba como resolver tudo. Dá para entender?

PLAYBOY – Dá. Você se sente mais confortável no papel da heroína.

GIULIA – Engraçado, mas é isso mesmo. Fico tão orgulhosa de mim quando assumo tudo e consigo resolver. Tão masoquista [risos].

PLAYBOY – A heroína não deixa de ser uma grande masoquista, não é?

GIULIA – Exatamente, como eu tenho que ser perfeita [ri], então prefiro assumir todos os erros, porque daí, se eu melhorar, tudo estará resolvido. O meu sacrifício eu garanto, entendeu? Bem masoquista mesmo [risos]. Mas eu sempre acho que a culpa é minha. Mas fico feliz depois quando a história é passada a limpo e as pessoas reconhecem que a culpa não era só minha.

PLAYBOY – O reconhecimento do seu sacrifício.

GIULIA – Eu tenho tanto medo de negligenciar um erro meu, de ser injusta, que prefiro resolver logo assumindo a culpa. Acho que eu quero ir pro céu! [risos]. Falo "Deus, se eu tiver culpa nisso, por favor, que me arrebentem..."

PLAYBOY – Me botem na cruz!

GIULIA – Na fogueira! Me julguem! Acho o máximo! [risos]. Lembro que eu tinha uns 5 anos, isso foi punk... A gente estava numa casa de praia, em Ubatuba [São Paulo], e meu pai estava conversando com a minha mãe sobre casamento e esse medo que ele tinha do compromisso. De repente, ele virou para mim e perguntou: "Você acha que a gente deve se separar?" Fiquei catatônica. Engraçado que muitos anos depois, na última conversa que tivemos antes de ele morrer, saímos para jantar. Eu tinha brigado com um namorado e falei para ele dessa dúvida de "casar ou não casar". Aí ele me disse: "Cada vez mais acredito nos indianos, as famílias é que têm que escolher com quem que o filho vai casar. Assim evitam-se muitos questionamentos" [risos]. E a minha mãe, que aturou aquele discurso dele anos e anos, ficou puta da vida.

PLAYBOY – E você teve medo de traumatizar seu filho? O que falou sobre a briga com o pai dele?

GIULIA – Tomei muito cuidado porque tinha que contar a história para ele não pensar que eu o abandonei, mas sem atacar o pai. Pedi ajuda a terapeutas. Ele foi crescendo e chegou uma hora que me questionava por que eu não tomava uma atitude. Ele não entendia, se ele não queria ficar na casa do pai, por que eu não o tirava de lá? Conforme as perguntas dele, eu dava nós na cabeça para explicar a verdade, sem passar raiva, para que ele se sentisse seguro. Ele fez um desenho que, nossa, foi terrível: o pai e a mãe, cada um puxando ele para um lado [fez pausa]. Mas fiquei muito feliz quando fizeram um exame psicológico e a terapeuta me disse para eu ficar tranqüila porque o sofrimento dele era circunstancial.

PLAYBOY – E, no meio disso tudo, ele ainda ganhou um irmão [José Pedro, filho de Bial com a nova mulher]?

GIULIA – É. Ele não me fala nada. Não sei se pediram para ele não comentar comigo ou se é coisa dele mesmo, mas toda essa parte do irmão que nasceu, do casamento lá, de como que o Théo se adaptou, eu realmente não participo de nada.

PLAYBOY – Você confia no Bial como pai?

GIULIA – Eu o via como pai das meninas, mas com o Théo eu não sei. Quando ele era bebê, o Pedro estava longe, frio.

PLAYBOY – É muito comum às mulheres que acabam de ter filhos não se sentirem aptas sexualmente. Você sentiu isso?

GIULIA – Não, nessa parte sexual não tivemos problemas. Mas, freudianamente, é papel do homem separar, simbolicamente, a mãe do filho. Se o homem não puxar a mulher de volta para a vida normal, não levá-la para jantar, seduzi-la, ela vai ficar ali preocupada com o choro, com o cocô, submersa naquele mundinho do bebê. Mas acho que os homens estão muito frágeis. Essa coisa da figura do protetor, da família patriarcal tem uma razão de ser. A mulher quando tem um filho precisa de um provedor ao lado dela. Está muito complicado o papel da mulher hoje em dia. Ela tem que cuidar do filho, cuidar da cabeça do marido e trabalhar, ser alguém na vida, pô! [risos]. Tem que ser a provedora e a acolhedora ao mesmo tempo, é uma loucura!

PLAYBOY – Em algum momento, antes da separação, o Pedro ficou agressivo com você?

GIULIA – É, ele ficou agressivo mesmo uma época [pausa]. E eu me fragilizei, não consegui me impor. E ainda tinha as famílias, minha mãe, muita coisa junto. Acho que eu falhei na administração de tudo isso. Mas ainda tinha acabado de ter filho. Estava muito sensível, não conseguia me impor.

PLAYBOY – Teve uma briga do Pedro com a sua mãe. [A mãe da atriz registrou queixa contra Bial por agressão física. O jornalista, ao ser impedido de falar com a mulher, teria empurrado o portão da casa na mão da sogra.]

GIULIA – É, pois é. Entraram outros elementos na nossa história ali e eu não consegui segurar, fui me desesperando. Até a gravidez, éramos muito felizes. Depois veio o filme, e ele mudou mesmo.

PLAYBOY – Pedro passa a imagem de um cara bacana. Li várias entrevistas dele em que falava coisas muito legais. Aquela simpatia da televisão existe também na vida real?

GIULIA – A mesma dúvida que você tem eu também tenho [risos]. Conheci um Pedro correspondente internacional, poeta, inspirador, apaixonado, sensível, com quem eu tinha muita afinidade. De repente, tudo mudou. Parece que ele virou outra pessoa. Hoje, vendo à distância, ele me parece um estranho, uma pessoa que eu não conheci, é o apresentador do Big Brother da televisão [pausa]. Na verdade, quando a gente se aproximou, ele sabia tudo sobre mim e eu não sabia nada sobre ele. Tinha um passado dele no Rio, as pessoas que o conhecem e que andavam com ele, que eu desconhecia. Nos dois anos que moramos juntos, fomos muito felizes. Depois, foi ficando estranho. E eu não soube administrar aquela loucura toda, tinha acabado de ter filho, estava muito fragilizada.

PLAYBOY – Que lições você tirou dessa história toda?

GIULIA – Essa história me deu a segurança que agora tenho dentro de mim. Eu era uma pessoa extremamente insegura. Nunca fui fraca, mas eu tinha uma insegurança muito grande, muita ansiedade em relação à expectativa que os outros pudessem ter sobre mim. Agora estou mais corajosa. A rejeição e o julgamento é uma aula de fibra [risos].

PLAYBOY – Vamos testar a auto-estima dessa moça.

GIULIA – Exatamente! Ou eu acreditava em mim ou acabava ali. Esse foi o meu limite. E aprendi muito, a ter segurança para montar minha casa, minha vida, criar meu filho, a ser feliz.

PLAYBOY – Como você imagina a relação com o pai do seu filho daqui para a frente?

GIULIA – Minha vontade é, depois que acalmar a turbulência, poder sentar e conversar com ele. Fraternalmente, sabe? Até porque a gente teve um filho e nunca desfrutou do prazer desse filho, das conquistas dele.

PLAYBOY – Você assiste ao Fantástico?

GIULIA – Às vezes eu assistia um pouco para estudar o adversário, sabe? [risos]. Depois que acabou o processo, não vi mais.

PLAYBOY – Mudando de assunto, qual é o primeiro registro da sua sexualidade que você tem da infância?

GIULIA – [Acende um cigarro.] Um dia, perguntei para minha mãe por que quando eu lia a revista Cripta sentia tanta coceira na xoxota quando o drácula passava a mão no peito daquelas mulheres, antes de chupar o pescoço delas [gargalhadas]. Eu devia ter uns 7 anos. Coitada da minha mãe [risos]. Eu era muito moleca. Adorava passar as férias na fazenda, na cidade onde minha mãe nasceu, Penápolis, no interior de São Paulo.

PLAYBOY – Aí, na adolescência, você virou a Sandy do Antunes Filho.

GIULIA – Exatamente, eu era totalmente a virgem. Ele falava para o grupo que comigo não podia brincar, eu era café-com-leite ali.

PLAYBOY – Você teve um amor platônico pelo Antunes?

GIULIA – Tinha uma atração forte. Era um prazer imenso eu estar naquela sala de ensaio, eu e ele, ele me dirigindo, eu fazia a Julieta, recitando Shakespeare. Queria até parar de estudar, não queria fazer mais nada da minha vida. Minha mãe que não deixou. Pô! Eu tinha 15 anos e ele era um senhor de 54 anos! [risos]. E era fascinante. Mas um dia chamei-o para uma conversa muito séria, imagine eu era uma menina, e disse que não podia ter nada com ele porque achava que atrapalharia o trabalho. Ele respeitou. Mas tinha um amor ali, sim. E eu não me envolvia com mais ninguém. Tanto que, só fui namorar alguém e perder a virgindade quando o Antunes deu férias para o grupo, dois anos depois. Mas eu colocava toda a minha libido ali no teatro do Antunes. Quando ele acabou com o grupo, fiquei perdida, em depressão. Me vi com 20 anos e tudo perdeu o sentido, passei a questionar minha carreira, sentindo uma certa desesperança. Aí fiquei viajando pela Europa, reencontrei um namorado, foi ótimo.

PLAYBOY – Você deu toda a sua adolescência para o Antunes?

GIULIA – É. A Bete sempre fala: "Putz, você tinha que ter tido adolescência, porque é um saco!" [risos]. Como estive fora da minha geração, fiz tudo tardiamente. Lembro que tive um impacto quando conheci os Titãs, por exemplo. Eu havia feito o Primo Basílio [minissérie da TV Globo] e depois fui passar férias na Bahia. No meio do show dos Titãs, na Concha Acústica de Salvador, pensei "meu Deus, eu fazendo uma mulher de 1800 e a minha geração aqui fervendo" [risos]. Foi quando namorei o Tony [Bellotto] e formei uma turma da minha idade. Engraçado, que eu nunca consegui me envolver com um colega de trabalho.

PLAYBOY – E o Gerald? Você não se envolveu com ele?

GIULIA – Gerald tem uma necessidade de se apaixonar pela atriz com a qual ele vai trabalhar. E aquilo me dava muita aflição. Primeiro porque foi a Bete, ex-mulher dele, que me levou lá. E sou muito religiosa nessa coisa de não misturar as relações. Aí tinha a Bete, que era a ex, a Daniela Thomas, que era a atual. Muita loucura para minha cabeça.

PLAYBOY – Cheirava promiscuidade para a princesinha do Antunes?

GIULIA – É [risos]. Eu era a própria Julieta. Mas o Gerald também era um cara fascinante e começou a me fazer a corte. Ao mesmo tempo me provocava, falava mal de mim no jornal. Aquele jogo todo me perturbava. Como eu era bobinha [risos]. Mas acabei me encantando por aquela figura do Gerald, ele se achava o próprio enfant terrible [risos].

PLAYBOY – Enfim, você deu ou não deu para o Gerald?

GIULIA – [Risos.] Ah! Depois de tanto tormento, um dia eu falei "tudo bem, vamos transar e resolver logo isso!" [risos]. A gente ficou junto algumas vezes.

PLAYBOY – E foi bom pra você?

GIULIA – Não exatamente. Pensando bem acho que sou muito católica [risos]. É difícil eu me entregar totalmente numa relação meramente sexual. Tem que ter um envolvimento afetivo, o que não era o caso ali. Era legal, mas muita confusão para eu administrar na minha cabeça. Então eu cortei. O que foi ruim, porque o Gerald encarou como rejeição, não me dirigia mais, realmente acabou atrapalhando o trabalho. Na verdade, foi falta de maturidade minha. Hoje penso que se você quer trabalhar com ele, já sabe que tem que namorar, transar, pegar o pacote completo [risos]. Essa vivência toda faz parte do processo de criação do Gerald. Mas eu adoro ele, é um cara muito interessante.

PLAYBOY – Como é que está a sua vida afetiva?

GIULIA – Tive relacionamentos muito bacanas nesse período do processo. Em Nova York, quando eu ainda estava muito fragilizada, reencontrei um namorado que eu já tinha uma história pregressa de confiança. Ele se aproximou muito delicadamente, sem nenhum interesse num primeiro momento, o que me confortou afetivamente. Depois namorei o Vinícius Viana [músico]. Não sou de ficar procurando, de ir a festas e dar uns beijos num cara aqui e outro ali. Estou até aprendendo a ser menos rígida e deixar fluir mais as relações, mas prefiro ser arrebatada por uma paixão. Tenho um sentido de preservação agora que sou mãe. Não vou trazer alguém para dormir em casa quando o Théo estiver comigo, por exemplo. É um respeito pela criança, e, quando eu tiver uma relação mais séria, esse novo homem será introduzido na rotina do meu filho de forma harmoniosa, naturalmente.

PLAYBOY – Como está a sua auto-estima? Quando eu disse que ia entrevistá-la, ouvi de muitos homens que você é muito sexy.

GIULIA – Que maravilha! Achei que tinha virado uma chave de cadeia [risos]. Uma mulher que passa por um processo com o ex-marido e depois faz a Heloísa na novela... Nenhum homem vai ter coragem de chegar perto de mim.

PLAYBOY – Você não se sente sexy?

GIULIA – Não [risos]. Sempre tive cara de menina. Aliás, um desafio para mim seria fazer um personagem vamp, um mulherão fatal. Nunca soube usar esses artifícios de sedução que eu vejo nas cariocas, por exemplo. Não saberia jamais seduzir ninguém numa praia. E, depois que eu tive filho, fiquei mais avacalhada, moleque.

PLAYBOY – E como faz para seduzir?

GIULIA – Sou muito tímida, nunca olho para o cara que estou interessada. Eu tento me colocar disponível e espero que ele tome a iniciativa. Para mim, é muito difícil comandar o approach.

PLAYBOY – Mas, pelo que eu ouvi de alguns homens, você tem uma coisa de mulher forte, leoa, que os atrai muito.

GIULIA – Ah, que tesão! [grita]. Aos 36 anos e depois de tudo isso, a melhor coisa que podem me falar é que sou gostosa [risos]. Como já provei o meu talento de atriz, acho o máximo ser sexy! Cansei dessa coisa cabeça, é muito cansativa. Bom é ser a mulher desejada, que faz parte do imaginário masculino, sabe? Quer saber, agora eu quero ser sex symbol. Quero ser a garota da praia, a musa do verão! [gargalhadas].

Fonte: Revista Playboy

Arquivo: Bia*