Giulia Gam, uma mulher normal

20/06/2003 21:37

Ao andar pela avenida Paulista, em São Paulo, lugar onde se sente em casa, Giulia Gam, 36, colhe os elogios por sua atuação em Mulheres Apaixonadas. Os comentários surgem de adolescentes ou mesmo de uma mulher que se aproxima e agradece: 'Sou uma Mada (Mulheres que Amam Demais) em recuperação. Obrigada pelo que você fez', diz. A atriz, que nasceu em Perugia, na Itália, se sente satisfeita. Passados os tempos difíceis, Giulia se encontra em um momento repleto de felicidade em sua vida. Depois de muita luta na Justiça, ela chega todos os dias do trabalho e tem o prazer de colocar Theo, 5, seu filho com o jornalista Pedro Bial, 45, para dormir. Simpática e atenciosa, Giulia aceitou falar das semelhanças entre sua personagem e sua vida, seu amadurecimento depois dos 30 anos, do filho e do relacionamento com os homens.

QUEM - Dizem que toda mulher tem um pouco da Heloísa. O que tem da Giulia nesse personagem?
GIULIA GAM -
Eu digo que não tem nada. Não a associo diretamente à minha vida. Essa relação de ciúmes dela, desse jeito, não tenho mesmo. Jamais seria capaz. Sempre fui muito séria, tive pudor até demais, fui das que sofriam calada. Hoje em dia, treinando com a Heloísa, talvez até aprenda alguma coisa.

QUEM - Você é ciumenta?
GG -
De fazer cena, invadir, ir atrás, não. Acho isso um desgaste muito grande. Antes de chegar nesse ponto, eu já separei ou então nem procurei saber. Nunca quis ir atrás de histórias. Já fui muito ciumenta com amigos, com meu filho, mas nunca nada que se aproximasse do que a Heloísa faz. Uma coisa que estou aprendendo com a personagem é que os homens têm o tempo deles de elaboração e não gostam de ficar discutindo a relação. Para a mulher, é insuportável, porque se as coisas não estão resolvidas, elas não conseguem dar um passo à frente.

QUEM - Você está namorando?
GG -
Até brinquei outro dia no camarim que, em novela, você já tem que estar engrenado, porque senão... Não estou namorando alguém, assim, de ter uma relação. Claro que às vezes você sai, conhece pessoas. Mas nesse momento há coisas muito intensas acontecendo, que é a volta do meu filho, essa novela, as leituras teatrais que mantenho no Rio, a peça Os Sete Afluentes do Rio Ota, em São Paulo.

QUEM - Você é vaidosa?
GG -
Quando você faz novela, tem que estar com a vida muito estruturada. Fisicamente, todo mundo sai muito desgastado porque não tem tempo de respiro. Então até as vaidades acabam... Me sinto uma operária. Você quer colocar a roupa mais vagabunda. No começo, vai bonitinha, bacana, animada, depois não agüenta mais maquiagem, roupa. Um lado meu que está ficando mais solto. Acabo sendo muito brincalhona e debochada comigo mesma, falo besteira. Não tenho essa vaidade clássica, de me arrumar. Mas claro que gostaria de fazer mais ginástica, colocar uma roupa legal, cuidar do cabelo.

QUEM - Com a novela e a peça, como faz para cuidar do Theo?
GG -
Tento ao máximo levá-lo à escola, ficar de manhã com ele. Às vezes, ele dorme mais tarde só para me esperar. É mais difícil, porque você está mais cansada, então não tem aquele pique que uma criança de 5 anos requer. Ele sente, é claro, mas todos os dias passamos umas duas horas juntos e coloco o Theo para dormir.

QUEM - Você pensa em ser mãe novamente? Ter família grande?
GG -
Agora minha família é meu filho. A gente não escolhe se vai ter um filho ou não. Se vai conhecer uma pessoa que te desperte a vontade de ser mãe. Às vezes, você tem grandes paixões, mas não tem vontade de ter um filho com aquela pessoa. Às vezes tem um homem maravilhoso, que seria um ótimo pai, mas não tem paixão. Claro que adoraria, de repente, ter outro filho, engravidar, passar por esse processo de novo. Criança é maravilhoso, mas cada vez mais vai depender das circunstâncias.

QUEM - Por que você perdeu a guarda do Theo? Foi por ter ido para Nova York?
GG -
Todo mundo quer saber, mas eu não posso responder, porque isso tudo está dentro de um processo sigiloso. Não tem um motivo específico, foi toda uma situação colocada, levantada e foi provado e visto que tenho condições de ter meu filho.

QUEM - Na época em que você perdeu o Theo chegou a se comentar que era por causa de drogas...
GG -
Drogas, não (risos). De jeito nenhum, não passou por aí. Não tenho nenhuma relação de dependência química, seja com drogas ou com álcool, seja com nada. A única pequena dependência que herdei foi o cigarro, que estou louca para me libertar. Podem ficar tranqüilos.

QUEM - Dá para traçar um paralelo entre o relacionamento entre a Heloísa e o Sérgio e você e o Pedro Bial?
GG -
Minha relação com o Pedro não passou por aí, inclusive porque a gente nunca brigou. Tivemos desencontros. De repente, duas pessoas que tinham uma comunicação perfeita não falavam mais a mesma língua.

QUEM - Como é o relacionamento com o Pedro hoje?
GG -
O que eu queria resolver era o litígio, porque a criança sente tudo, a tensão dos pais, a coisa mal resolvida. Graças a Deus não ficou nenhum rancor, nada.

QUEM - Qual o conselho que você dá para mulheres que são como a Heloísa?
GG -
Passei por todos os conflitos da mulher moderna, seja na vida pessoal ou na ficção. O que posso falar é que é muito assustador perder as coisas, perder um casamento, uma relação, um momento de trabalho ou correr o risco de perder toda uma carreira, enfim. Perdas são pessoas que morrem. Você começa a perder dos 30 anos em diante, provavelmente, quando não antes. É muito duro o momento da perda, porque você acha que realmente não vai ter mais saída, não sabe como se reconstruir. E nesses momentos, falta muita paciência, porque a gente quer resolver logo. Vá com calma, tenha carinho, procure pessoas que sejam afetivas com você. O grande problema do ser humano é o afeto. Assim como dá o clique da coisa desabar, vem o clique das coisas, aos pouquinhos, irem se reconstruindo. Você não vai conseguir tudo de uma vez. E aí é uma sensação muito boa, porque você sabe o valor de cada coisa, sabe por onde passou para chegar ali. É uma compaixão e gratidão muito grandes.

Fonte: Revista Quem

Arquivo Pessoal: Bia*

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