Heroína singular - Fera Ferida

20/07/1994 15:24

Giulia Gam é uma miúda. Pequena, magrinha, cabelo escorrido, quase que dá vontade de sentá-la no colo. Preparou-se durante anos para a carreira de atriz e hoje, aos 27 anos, é respeitada e querida no meio, apesar de ter pouca experiência em telenovelas.

Quando aceitou fazer o papel de "Linda Inês", Giulia pediu aos autores para que não fizessem uma personagem que fosse mais uma heroína de telenovela, mas sim alguém que demonstrasse coragem e tivesse temperamento forte e decidido. Ficou assim acertado. Vestiu-se quase como um rapaz, com base na ideia de se diferenciar de todas as outras raparigas de Tubiacanga, sem no entanto se masculinizar.

Comparando-se com a "Linda Inês", a atriz alega que se identifica com ela graças à maneira de se vestir. "Adotei o estilo 'clean' e não tenho nenhum pudor em usar roupas dos amigos. Odeio ter que comprar roupa para combinar com outra. O corte é importante, porque tem que definir as formas da mulher: pernas, seios e bumbum", diz Giulia.

Não sendo adepta de roupa confeccionada com lycra, a atriz delira, no entanto, com coisas que produzam efeito teatral: "adoro sapatos de salto alto, tênis coloridos e botas malucas. Não usaria um Chanel, apesar de chique."

É supersticiosa e ansiosa. Estas características não são boas para quem faz televisão porque as gravações nunca são feitas na hora marcada. O tempo de espera prolonga-se infindavelmente e o cansaço rebenta com a melhor forma física.

Nessa agitação toda, Giulia consegue manter a linha, de que tanto se orgulha, porque "não sobra tempo para comer." Adepta da meditação, tem ainda a mania de massagear os pés.

Como conseguiu aguentar nove meses de gravações, pode-se concluir que aquelas duas técnicas devem dar bons resultados.

Regresso à telenovela

Depois de "Que Rei Sou Eu?" Giulia Gam esteve cinco anos sem fazer telenovela. O intervalo só foi quebrado com a sua participação em "Fera Ferida". Gostou muito de voltar. "Vinda do teatro, fiquei muito assustada com o ritmo industrial de gravação da novela, ficava numa grande ansiedade, não me adaptava ao ritmo", conta.

A atriz tem ideias próprias sobre o desfecho de "Fera Ferida". Para ela, "os autores foram muito felizes no texto, baseado no conto 'Nova Califórnia', de Lima Barreto." Sublinha que o conto "leva às últimas consequências a ganância, a ambição e a loucura, a ponto de você revirar até os seus mortos, a coisa mais íntima, mais pessoal de cada um, e acabam todos por se matarem uns aos outros, para terem os ossos." No entanto, em "Fera Ferida", os argumentistas  "não levaram a narrativa a uma radicalização porque se tratava de uma novela, com a sua componente lúdica", afirma. E acrescenta: "Optaram, sim, por trabalhar as duas frentes sem radicalização: ao lado da crítica surge, também, a parte lúdica, do amor - a redenção do 'Flamel'. Acho que eles conduziram a trama muito bem e o final é muito interessante porque não ficou com aquele ar forçado que algumas novelas têm."

Fonte: Revista da TV - Portugal

Arquivo: Nuno Bragança

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