‘‘Meu estado civil é ficante’’

31/01/2005 05:03

Atriz estréia peça em São Paulo, conta que nunca levou um homem para dormir em casa após separar-se de Pedro Bial e fala da relação com o filho Théo, de 6 anos

Não há nada que lhe dê mais prazer do que estar no palco dando vida a um espetáculo teatral. Nem mesmo as unhas sujas e o dedo inchado de uma das mãos por conta de um acidente ocorrido no ensaio da peça Dilúvio em Tempos de Seca, que acaba de estrear em São Paulo, impediram a atriz Giulia Gam de contar o que a vida permeada por atuações em cima dos palcos lhe ensinou. Falou também da retomada profissional – a ciumenta Heloísa de Mulheres Apaixonadas foi marcante – e afetiva depois do turbilhão de acontecimentos que mudaram para sempre a vida dela: a separação do ex-marido Pedro Bial e a disputa pela guarda do filho Théo, 6 anos. Aos 38 anos, filha única de uma psicóloga e um artista plástico, Giulia nasceu em Perúgia, na Itália, mas fez carreira em São Paulo – aos 15, já brilhava no grupo de Antunes Filho. Hoje, solteira aos 38 anos, tem a guarda definitiva de Théo, com quem mora no Rio e surfou nas últimas férias.

Depois da Heloísa (personagem que tinha ciúme doentio pelo marido, em Mulheres Apaixonadas) os homens se afastaram
de você?
Pensei que nunca mais arranjaria namorado. Depois de tudo que havia passado (separação do ex-marido e disputa pela guarda do filho) deveria interpretar uma mocinha e não uma louca. As pessoas perguntavam ao porteiro do prédio se eu era daquele jeito mesmo. O meu namorado, na época, falava: “Meus amigos estão impressionados de eu estar com você”. Mas, hoje, eu estou ridícula! Com quase 40 anos, estou me vendo ficando. Meu estado civil é ficante (risos). Já fui casada e tenho um filho. Estou nessa, mas os homens estão em outra, né? Já ficaram e estão casados. E como é que vou fazer? Esperar se separarem, porque não me deito com homem casado. Às vezes, não fico sabendo! (risos).

O que procura? Um novo casamento?
Seria bacana se me juntasse com alguém, gostaria muito de ter outros filhos. Mas não sei como e quando isso vai acontecer. Aprendi que é bacana ter namorado. Quando me separei, foi uma desilusão porque achei que tivesse uma família tradicional. Quando decidi ter um filho com alguém (Pedro), achei que era isso: aquele companheiro, a cumplicidade no trabalho, na vida, entrega total em todos os níveis. Que a gente coroaria com um filho e ele (Pedro) seria meu parceiro de vida mesmo. Quando isso quebra, você continua com o filho, não está desraigado, não dá para pegar a mala e ir para a p. q. p. Passei um ano em Nova York e vi que minha família somos eu e meu filho. Assimilar foi duro. Depois, voltei, cheguei no Rio de Janeiro com uma mala, carteira de identidade e um processo (pela guarda do filho) nas costas. Fui guerreira pra c...

O que melhorou depois da separação e da disputa pela guarda do filho?
Na época, ninguém sabia nada do que estava acontecendo comigo, nem eu. Estou avaliando agora. Se dos 15 aos 30 eu vivi muito mais tempo na ficção do que na realidade e o meu conhecimento humano era por meio de personagens, eu tive nesses últimos cinco anos uma universidade. Virei Ph.D. em vários assuntos da vida real. Havia momentos em que me sentia com 90 anos. E essa peça (Dilúvio), com a energia da equipe mais jovem, do Aderbal (Freire-Filho, diretor), do Wagner (Moura, ator), me deu vigor, rock’n’roll, vejo que dei uma rejuvenescida, foi um voltar para casa.

Como é sua relação com seu filho?
Ele não tem mais nenhum vestígio de bebê. Passamos quatro dias na praia e, de repente, me vi com aquela roupa emborrachada surfando com ele. Também está na fase de descoberta de sexualidade. Às vezes, passo numa banca e, enquanto não estou nem aí, ele está
vendo uma mulher pelada. Ele já brinca, fala da bunda. Certo dia, deu um rolo para nós viajarmos de avião e eu estava preocupada. Aí, ele me falou: “Calma, não fica nervosa. Toma uma Coca-Cola que a gente já embarca”.

Teve depressão pós-parto?
Não sei. O primeiro ano é muito intenso. É um mundo rico, só que ao invés de ser para fora, como um espetáculo, é um bebê, uma fralda, o leite que sai, um sorriso, é a vida no microcosmo. E você não quer sair dali. O nascimento de um filho te remete à sua infância. Você olha para o filho e diz: “Dou chupeta ou não. Vou deixá-lo chorar ou no berço”. Qualquer decisão, você busca referência. Eu não tive irmãos, não convivia com bebês, nunca tinha pego em recém-nascido na vida. Acho que toda mãe supervaloriza as tarefas. Eu tinha uma insegurança normal e errei em encenar Cacilda!, quando tinha de viver as emoções como mãe. Eu tinha que me maquiar, pôr peruca, mas tinha perdido a fé de atuar. Essa fase ficou para trás na minha vida e o tempo em que eu tentava entender eu não avançava. Passei a pensar dali para frente e a coisa foi andando. Aquilo ficou um pedaço que, se um dia entender, ótimo, se não, paciência.

Já se pôs no lugar do Pedro? Ele teria motivos para achar que você estivesse emocionalmente instável?
É difícil, porque nunca conversei com ele sobre isso. Queria muito conversar sobre tudo o que aconteceu, mas talvez ainda não dê. Tivemos conquistas ano passado. No começo, a gente não se falava, passamos a nos falar por advogados e, agora, temos um diálogo, uma comunicação como pais do Théo. Em relação ao Théo, estamos muito à vontade para conversar, se ligar, combinar datas. A nossa relação de homem e mulher ficou para trás.

Como foi sua primeira relação amorosa depois da separação?
Eu não queria colocar outra pessoa que não tivesse a ver com a criação do Théo. Tanto que minha primeira relação foi com um antigo namorado. Ele me apoiou, foi querido, a gente só dormia junto um pouco. Mas até hoje eu nunca tive uma pessoa que morasse comigo, que dormisse em casa. O Théo ainda não teve padrasto, mas sabe dos namorados da mãe nesses últimos cinco anos.

Fisicamente você sempre foi bem resolvida?
Descobri muito tarde que um decote funcionava. Eu sempre fui meio moleque, não era dessas meninas excitadas. Meu pai, acho, queria um filho menino, me ensinava a subir em árvore, jogar bola. Eu era um homenzinho, colocava cobra na gaveta da professora. Por passar fim de semana em sítio, gostava de usar bota, calça jeans, camiseta. Achava frescas aquelas meninas que queriam se arrumar, pôr sutiã. Até que, certa vez, gostava de uma pessoa e não rolava, não rolava. Um dia uma amiga falou: “Você tem de pôr um decote”. E eu: “Que ridículo!”. Ela me levou para a casa dela, colocou um vestido preto em mim e fui jantar com o rapaz. Ele só olhava para o meu decote, ficou encantado e começamos a namorar.

E, hoje, lança mão desses meios?
Agora, aprendi. Achava menor conquistar alguém só por esses artifícios. Mas, agora, aos 30 e poucos, quero ser a gatinha da praia de Ipanema (risos). E tenho o maior prazer em servir o homem, quando estou num relacionamento. Só não cozinho. Eu lavo cueca, lavo louça, tenho o lado frágil, mulherzinha, de ficar bonitinha, arranjar presentinho, deixar recadinho, fazer nhe-nhe-nhé. Mas, se o cara me vir trabalhando, pode não ver nada disso, talvez nem ouse uma aproximação.

O Antunes não ousou uma aproximação?
Tive paixão artística e platônica pelo Antunes, mas uma relação de namorado, de descobertas, fui ter aos 21. Transei pela primeira vez
aos 18. Entrei para o Antunes aos 15, virgem no grupo, meus pais estavam presentes ali, eu era meio respeitada, meio café com leite.
Foi em umas férias do Antunes, que reencontrei uma pessoa de que gostava e, finalmente, transei.

Como foi?
Organizei minha desvirgindade! Teve uma preparação para me prevenir contra gravidez e foi na casa dele. Foi combinado, ele foi todo bonitinho, fez direitinho. Ele morava com a mãe, ela foi viajar e transamos na cama da mãe dele. Foi engraçado. Depois que rolou, achei meio engraçado, esquisito. Aquilo de ficar de perna para cima (risos). A humanidade se digladia por isso!? Não senti prazer pela primeira vez. Depois, claro, fui descobrindo a brincadeira.

Fonte: https://bit.ly/pBLqRz