Mulher que ama demais (Mulheres Apaixonadas)

18/02/2003 18:07

Giulia Gam, a ciumenta Heloísa de “Mulheres Apaixonadas”, diz que a única semelhança entre atriz e personagem é o trauma da separação

Quando resolveu aceitar o convite de Manoel Carlos para fazer a marchand Heloísa de Mulheres Apaixonadas, Giulia Gam não tinha idéia do que estava por vir. Como de hábito, o autor fez mistério sobre a trajetória da personagem. Limitou-se a dizer que Heloísa era irmã de Helena e mulher de Sérgio, interpretados por Christiane Torloni e Marcello Antony. Mesmo dispondo de tão poucos elementos para compor a personagem, a atriz topou na hora. Afinal, ela não fazia uma novela, do início ao fim, desde Fera Ferida, de 1994. A alegria por estar de volta às novelas só não é maior do que a sentida por ter conquistado, em janeiro deste ano, a guarda definitiva do filho Theo, cinco anos, disputada na justiça com o ex-marido, o jornalista Pedro Bail.

Pergunta – Você imaginava que pudesse voltar às novelas com uma personagem tão marcante como a Heloísa?

Giulia Gam – Imaginava fazer um trabalho legal, dentro de uma novela bacana do Manoel Carlos. Mas não me passava pela cabeça que a repercussão teria essa dimensão. É incrível que uma novela ainda mexa tanto com as pessoas. Estava insegura. Quando você está longe, acredita que nunca mais vai conseguir voltar. Hoje, sinto como se fosse uma outra atriz, bem mais madura.

Pergunta – Você não sentia saudades de fazer televisão?

Giulia – Uma novela como essa é uma maravilha. Apesar da correria, não estou cansada. Só tenho medo de não dar conta do recado. Não sobra muito tempo para outras coisas.

Pergunta – Como está sendo interpretar uma “dependente afetiva”?

Giulia – Quando recebo o roteiro, às vezes, rio pra caramba. Outras vezes, morro de vergonha. Mas logo embarco na viagem e acredito no que estou fazendo. A Heloísa é frágil, não confia em si mesma e endeusou muito a figura do outro. Mas estou aprendendo a não defender o personagem. Às vezes, me pego querendo melhorar as cenas porque é tudo muito sofrido. Mas não posso fazer isso. Afinal, presto um serviço à dramaturgia.

Pergunta – O papel de Heloísa exigiu alguma preocupação especial?

Giulia – O Manoel Carlos me deu poucos subsídios para compor a Heloísa. Ele não queria que eu me preparasse muito para não chegar com idéias preconcebidas. Pediu, inclusive, que eu guardasse segredo sobre o Mada (Mulheres que Amam Demais Anônimas).

Pergunta – O que mais chamou sua atenção nas reuniões do Mada?

Giulia – Quando uma pessoa se encontra num momento difícil da vida, em que não confia em mais ninguém, a melhor coisa que pode acontecer é entrar num grupo onde ela não vai ser julgada ou diagnosticada. Como mulher, não tive como não me identificar. Posso não tomar as mesmas atitudes que elas, mas sei o que é passar por um momento de baixa auto-estima, quando você deposita sua felicidade em outra pessoa ou, então, quando não se valoriza o suficiente.

Pergunta – O Manoel Carlos costuma dizer que escreve os personagens pensando nos atores que vão interpretá-los. O que você pensa disso?

Giulia – Logo no começo, levei um susto quando vi que a Heloísa era uma pessoa bastante invasiva. Não tenho essa espontaneidade de chegar e falar o que penso, doa a quem doer. Sou muito tímida. Não me identifico, por exemplo, com esse lance de ciúme. Mas todo mundo já passou por um momento de baixa auto-estima, de achar que a vida não vale a pena.

Pergunta – Gravar cenas de forte intensidade dramática não é desgastante?

Giulia – Todos sabem que passei por uma separação traumática, enfrentei um processo judicial, enfim, isso foi público e notório. É óbvio que o público pode imaginar que uso coisas da minha história para exorcizar meus fantasmas. Mas, tirando o trauma da separação, minha história não tem nada a ver com a da Heloísa. Está tudo muito bem resolvida dentro de mim. Graças a Deus, consigo manter um distanciamento saudável na hora de gravar.

Pergunta – E a reação do público?

Giulia – Até pouco tempo, o público não conseguia entender direito a Heloísa. As pessoas não sabiam se torciam ou não por ela. Pairava uma certa dúvida no ar. Atualmente, as reações vão de raiva, como “Essa mulher é insuportável!” ou “Dá vontade de dar porrada nela!”, a afronta, como “Puxa, essa Heloísa não em amor-próprio!” ou “Ela não devia se humilhar desse jeito!”. Mas, desde que apareceu o Mada na novela, as pessoas passaram a ver a situação com outros olhos.

 

Zero Hora –  Caderno TV+Show de 2003

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