'Mulheres' atualiza o imaginário masculino

09/06/2003 19:40

 “Mulheres em Pleno Ataque de Nervos” seria um título mais adequado à novela das oito. Para deleite da audiência masculina, o folhetim de Manoel Carlos expõe uma variedade de personagens femininas impulsivas.

Heloísa (Giulia Gam) vai se tornando uma referência na trama. Ela encarna o ciúme doentio e vai às vias de fato. Uma facada no marido querido e um acidente de carro com traços suicidas salientam a trajetória autodestrutiva da personagem.

O ciúme desmedido leva também Marina (Paloma Duarte) a sair no tapa com Diogo (Rodrigo Santoro), outro marido adorado.

Revoltada com a indiferença de Cesar (José Mayer), Helena (Christiane Torloni), com os olhos mareados, puxa a direção do carro desgovernando momentaneamente o luxuoso importado dirigido pelo cirurgião de sucesso.

Professora de educação física Rachel (Helena Ranaldi) encarna a mulher que apanha do marido, um tipo soturno que deixa marcas roxas ao redor dos olhos da esposa. A violência dele mistifica a traição dela, encantada pela meiguice de um aluno de segundo grau, exímio nadador.

Em meio ao desatino infanto-juvenil dessas personagens encantadoras, as mais velhas impressionam pela placidez com que articulam a realização de seus desejos – para além de preconceitos de classe e idade.

Verdadeiras deusas nesse panteão de alucinadas, Lorena (Suzana Vieira) e Sílvia (Natalia do Vale) realizam a sua fantasia com jovens empregados charmosos.

Após literalmente se despir de seu figurino perua da zona sul, substituído por traje sensual em cores vivas, a senhora casada se delicia com o ambiente descontraído de um baile de periferia. Se torna amante do atraente motorista, namorado de sua empregada esforçada.

A heroína mor, talvez a única sensata, é a sorridente Lorena. Ideal de mulher e mãe moderna, realizada profissionalmente, sem medo de ser feliz, se casa com o filho do motorista. A bondosa fada madrinha incentiva o amado jovem-objeto, sugestivamente chamado Expedito, a seguir carreira de modelo.

Como se vê, no melhor estilo melodrama, sentimentos exacerbados desencadeiam intervenções no corpo. As conseqüências da emoção corrosiva se expressam literalmente na carne.

A novela atualiza o imaginário convencional masculino, aquele que atribui à mulher comportamentos que escapam à razão. As mulheres da novela de maneira mais ou menos intempestiva, assumem as linhas mestras de condutas inexplicáveis e com isso fascinam espectadores homens.

Fonte: Folha de São Paulo