Perfil do consumidor - Alternativa com grife

29/10/1988 18:33

De volta a São Paulo há seis meses, e ainda se recuperando das gravações da série O primo Basílio, da Rede Globo – onde brilhou como a Luizinha da obra de Eça de Queirós –, Giulia Gam tem vários planos. Deixar a casa dos pais para viver sozinha num apartamento que já alugou no bairro classe média do Itaim Bibi; encontrar um bom papel no teatro ou no cinema e manter a forma com aulas de natação, dança (com Klaus Vianna), canto (com Neide Thomas), completadas com uma rigorosa vigilância da alimentação. “Tenho tendência para engordar”, lamenta a atriz de 21 anos, seis de profissão, revelada no palco pelo diretor Antunes Filho, e, na TV, pela jovem Jocasta, que interpretou na novela Mandala. Mas Giulia compensa a falta dos doces com uma agitada agenda, das noites de jazz ao balé no Teatro Municipal, de preferência acompanhada do namorado, o guitarrista-titã Tony Belloto. Nas horas vagas, como toda garota paulista, Giulia se transforma numa consumidora – de coisas e de cultura, sempre puxando para a linha alternativa-original. Só não gosta de citar as marcas. Boa parte porque vive recebendo presentes (muitos deles dos anunciantes para os quais grava comerciais), mas também porque, segundo diz, tem uma péssima memória. Ainda assim, Giulia abriu um pouco de sua intimidade, com ou sem grife.

Jeans – “Vivo usando uma porção de US Top, porque ganhei quando fiz o comercial, sempre caem bem. Mas gosto muito dos modelos da Zoomp.”

Tênis – “Aquele para praticar ginástica aeróbica, bem leve, da Rainha.”

Sapatos – George Henri.

Camisas e camisetas – Benetton, Simultânea, Fora de Moda (“onde tem umas roupas de segunda mão reformadas”) e Bagagerie (“é lá que encontro blusas de seda”).

Relógio – Só de plástico, descartáveis. (“Cansei de ficar perdendo relógios caros. Agora, que só uso os mais baratinhos, parei de perder”).

Perfume – Os de fragrâncias de flores, sem ser doce. Os preferidos são os florais franceses de Yves Rochas, e o Armani, que ganhou do diretor global Roberto Talma. (É bem forte, só uso quando tenho que sair à noite).

Sabonete – Neutro, de glicerina.

Xampu – A marca varia, mas tem de ser natural. (Meu cabelo é muito fino).

Cabeleireiro – Mário, do Hair Fashion, e Beto, do Beka, ambos de São Paulo. (Mas adoro cortar o cabelo com colegas de cinema, como o Yatagan, do Rio, e o Jean, de São Paulo).

Creme dental – “Qualquer um que seja branco.”

Lingerie – “Um pouco de tudo. De uns tempos pra cá peguei a mania de usar aquelas calcinhas grandes, largas. E gosto daquele sutiã inteirão da  Valisere.”

Maquiagem – Usa muito pouco, de várias marcas. (Mas achei linda a linha da L’arc em ciel, que me mandou umas coisas.)

Cremes para o corpo – Lancome e de Ala Szerman.

Óculos de sol – “Estou usando uns modelos que o Tony trouxe de Londres.”

Mochila – De couro, da Frank & Amaury.

Férias inesquecíveis – Ouro Preto, “pegando o trem até Mariana, super-bonito”.

Companhia Aérea – Varig e KLM. (Fiquei encantada quando soube que serviam comida integral para passageiros naturalistas.)

Roupa de dormir –  “No verão, camisolinhas rendadas do Ceará, bem bucólicas. No inverno, camiseta e calça de malha de algodão – e tudo branco.”

Comida – Só pratos leves, à base de peixes e legumes no vapor.

Restaurante – Todos de Sampa: América, Govinda, Degas e Low Calories. (Este só serve pratos de baixa caloria, mas tem de tudo, de purê de maçã a vatapá).

Bebida – “Vinho branco para ficar alegrinha, às vezes um hi-fi e cerveja. Adoro caipirinha, mas engorda demais.”

Bar – “O do Terraço Itália acho engraçado, de vez em quando cai bem. E os de mesinha na calçada, como o L’Arnaque.”

Lugar pra dançar – Aeroanta, em São Paulo. No Rio, ia muito ao Afrika.

Cafeteria – La Banguette da Faria Lima. (“Acho bárbaro tomar um café no final da noite, especialmente de domingo.”)

Sorvete – La Basque. (“Mas não posso nem pensar..”)

Iogurte – Frozen Iogurt, do América. Na geladeira qualquer um que seja natural.

Doces – Bolos e chocolates.

Doceria – Amor aos Pedaços. (“Quando eu ainda arriscava comer doces, adorava aqueles brigadeirinhos de morango e as tortas de damasco.”)

Flor – Orquídeas, primaveras, lírios, papoula.

Floricultura – “Gostava muito da Doce Mistura, no Rio. Lá eles não embrulham as flores, mas criam um arranjo junto com a embalagem, com vasos diferentes, fica lindo.”

Presente para dar – “Curto muito mais transar a embalagem, o cartão, do que o presente em si. Mas, no geral, gosto de fazer umas brincadeiras. Por exemplo: no Dia dos Namorados, eu ainda não tinha muita intimidade com o carinha e não sabia se ele gostaria de receber uma camisa. Então comprei um jacaré de chocolate e bolei uma caixinha linda, colorida. Deu certo.”

Presente para receber – “Essas brincadeirinhas, brincos e anéis.”

Jóias e bijuterias – “Eu tenho um lado clássico muito forte, então adoro pérolas e peças de marcassita. Ou, ainda, ônix, água-marinha e safira. Nas bijuterias, acho bonitas as coisas da Zoomp e combinações de prata com pedra.”

Instrumento musical – Flauta transversa. “Já toquei bastante, geralmente repertório renascentista. Depois, fiz um ano de violino. Agora, não tenho tempo.”)

Aparelho de som – “Ainda vou comprar para a casa nova.”

Música para tocar em casa – “Os clássicos tipo Mozart, Debussy, e o instrumental, como Egberto Gismonti. E, claro, o que todo mundo curte: Milton, Caetano.”

Televisão – Também não comprou ainda.

Programas de TV – “Gosto muito da programação da TV Cultura de São Paulo, sempre assisto às entrevistas do Roda Viva e achei o máximo aquela série da BBC sobre teatro. Mas também curto a (TV Mix, da Gazeta).”

Videocassete – “Vejo pouco, porque prefiro ir ao cinema. Mas uso por causa do trabalho, e aproveito pra ver coisas que perdi: Esposamante, Joana, a francesa.”

Cinema – “Aqueles antigos do centro de São Paulo, como o Metrópole, ou os pequenos e aconchegantes, como os Belas Artes.”

Filme –A Família eu achei longo, mas lindo. E tudo de Wim Wenders e Dennis Hopper.”

Jornal – Assina a Folha de S. Paulo, mas curto o caderno 2, de O Estado de S. Paulo.”

Revista – Veja e Isto É Senhor, “que está ficando ótima”.

Teatro – Anchieta Cultura Artística e o do Museu de Arte de São Paulo, porque “tem boa visão de qualquer poltrona e ótima acústica”.

Peça teatral – Um Processo, dirigido por Gerald Thomas.

Diretor – Antunes Filho, Daniel Filho e Hector Babenco. “São pessoas que vão além do domínio do trabalho como diretor, têm propostas artísticas”.

Ator – Marcello Mastroiani.

Atriz – Ingrid Bergman.

Figura política – “General de Gaulle e, literalmente uma figura, Jânio Quadros: a gente não sabe nem julgar o Jânio direito.”

Livro – “Geralmente procuro livros relacionados com o teatro, o que é muito difícil de se encontrar. Quanto à literatura, depende da época e do meu tempo disponível. Terminei de ler O amor nos tempos do cólera, do Gabriel Garcia Marquez, e agora estou com O espírito das roupas, de Gilda Mello e Souza – um barato.”

Esporte – “Fiz esgrima durante muito tempo, competi pelo Esporte Clube Pinheiros, depois descobri que muitas escolas de teatro usam a esgrima na preparação do ator. Não só pela postura, mas acho que tem a ver com o aspecto teatral da performance, coisa de capa e espada”.

Câmera fotográfica – Nikkon. (“Mas nem uso tanto, comprei numa viagem à Europa porque todo mundo que estava comigo comprou.”)

Medicina – “Já fui naturalista radical, daquelas que iam ao iridólogo (para análise da íris) e passavam argila na barriga, era uma coisa medieval. Mas ainda boto fé no diagnóstico pela íris, embora procure a acupuntura quando tenho problemas.”

Bicicleta – “Uma velha Caloi de dez marchas”.

Carro – “Adoro dirigir, mas ainda não comprei o meu”.

Obras de arte – De Tomie Ohtake, Ivald Granato, Cassiport Torres, Maria Bonomi e os grafiteiros do grupo Tupi Não Dá.

Papelaria – Papler. (“É lá que encontro as coisas para fazer caixas e cartões de presente”).

Investimento – Poupança.

Partner de palco – “Gostaria de contracenar com o Jô Soares”.

Partner de agito – Ivald Granato, “superdivertido”.

Partner de vida – Tony.

Símbolo sexual – Gerard Depardieu.

Criada de dentro – Tereza.

Quem levaria para uma ilha deserta – “Eu mesma, mas só por uma semana”.

Quem deixaria lá – “Todos os meus diabinhos, mas também só por uma semana: sem eles, acho que eu não conseguiria mais produzir”.

Frase – “Em tudo o que você acredita e põe energia, dá certo”.

 

Fonte: Jornal do Brasil

Arquivo Pessoal: Nuno Bragança

Para ver o jornal, clique aqui.