Que Rei Sou Eu?

13/09/1989 15:09

O autor Cassiano Gabus Mendes admitiu que o Reino de Avilan era como o Brasil, cheio de corrupção e lucro fácil

Durante a gravação do último capítulo da novela Que Rei Sou Eu?. Daniel Filho, diretor da Central Globo de Produções, e também o ator que fazia o Conselheiro Bergeron Bouchet, avisou que aquela não era uma novela de verdade. “É uma piada e não me peça para contar duas vezes”, brincou.

Mostrar as loucuras do Brasil através do Reino de Avilan foi uma grande sacada do escritor Cassiano Gabus Mendes, em 1989. Corrupção, roubalheira, lucro fácil, tráfico de rapé eram uma constante naquele lugar imaginário, onde “muitos tem pouco e a maioria não tem nada”, Cassiano admitiu que “o país imaginário é o Brasil”.

O Rei Petrus II – Gianfrancesco Guarnieri – morrer nos primeiros capítulos e, no poder, fica a sua mulher, a incrível e corrupta rainha Valentine (Teresa Rachel). Ela é facilmente manipulada por Ravengar (Antonio Abujamra), mistura de Nostradamus e Rasputin. Um filho bastardo – Jean-Pierre (Edson Celulari) – não podia faltar numa história capa-e-espada como essa. Ele é o verdadeiro herdeiro do trono, apaixonado pela bela e revolucionária Aline (Giulia Gam). Mas quem assume o trono é Lucien Helen (Tato Gabus Mendes), um ditador da pesada, que conclamou os seus súditos a se nutrirem de ódio, uns pelos outros!

A novela alcançou ótimos níveis de audiência e reuniu um elenco brilhante. Estavam lá: Aracy Balabanian, Ítala Nandi, Cláudia Abreu, Natália do Valle, Oswaldo Loureiro, John Herbert, Jorge Dória, Stênio Garcia, Marieta Severo, Carlos Augusto Strazzer. Dercy Gonçalves e Chico Anysio fizeram participações especiais. Aproveitando o caso do megaespetacular Naji Nahas. Cassiano criou o personagem Taj Mahal (Chico), que deu um tremendo rombo em Avilan. Dercy foi convidada para ser a mãe de Valentine, a baronesa Lenilda Eknésia. Ela chegou de Paris e foi logo dando conselhos sexuais à neta Juliete (Cláudia Abreu).

Como no Brasil, a moeda é trocada e, logicamente, super valorizada. Passa de caduco para duca, fazendo os preços dispararem e os produtos sumirem das prateleiras. Era como se todos estivessem vivenciando o governo da época, chamado de Valentine, a “rainha que não governa”.

Naquele mundo, nem mesmo as guilhotinas importadas da Alemanha funcionavam. Cético e pessimista, Gabus Mendes chegou ao final da novela fazendo uma revolução, em que os pobres, finalmente, assumem o poder. “O Brasil só vai ter jeito assim”, decretou.

Fonte: Revista Amiga