Sem fazer cena - Revista TPM

16/10/2002 04:55

Páginas vermelhas

Giulia Gam virou atriz encenando um drama. De uns anos para cá, o gênero tomou conta de sua vida real. Ela perdeu a guarda do filho Theo, fruto do casamento com o jornalista Pedro Bial, por duas vezes. Ficou deprimida, afastou-se da tevê e da figura glamourosa de estrela e musa global. Agora, novamente morando com o filho, ela está mais otimista. E ousa até arriscar que a comédia pode voltar a dar o tom

Giulia Gam, 35 anos, já foi Jocasta, Julieta, Linda Inês, Dona Flor... Todas mulheres tentadoras, algumas mais densas, outras deliciosamente espevitadas. Não por acaso tornou-se musa da Globo nos anos 80 e 90. Musa com fama de estrela para poucos e bons papéis. Desde que seu filho Theo nasceu, há quatro anos, Giulia saiu de cena. Precisava de tempo para curtir a estréia como mãe e também para resolver sua história com o jornalista Pedro Bial, pai de Theo, com quem foi casada durante três anos. “A sensação era que, aos 30 anos, tinha conquistado coisas muito bacanas. Estava fazendo Dona Flor, casada com uma pessoa que amava, com quem tive um filho e mantinha projetos em comum”, resume.

Da vida boa mergulhou em uma barra-pesada. Foi acusada pelo ex de não ter condições psicológicas para criar uma criança: “Em processo fala-se tudo. Vão dizer que sou louca, o Felipe Camargo vai dizer que a Vera Fischer anda pelada pela casa, matando todo mundo, cada um fala as merdas que bem entende.”

Em decorrência de um litígio que deve se estender até o final deste ano, Giulia teve de se separar do filho duas vezes. Atualmente, detém a guarda provisória do garoto, mas convive com o medo de perdê-lo a qualquer momento. Dor que define como dilacerante. “Nunca imaginei ficar longe do meu filho, não poder participar da vida dele. Isso tudo é muito impressionante.”

Mãe e filho vivem em um apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro, para manter a proximidade com Pedro Bial – que mora em um bairro vizinho com a nova mulher, a cineasta Isabel Diegues, com quem teve outro filho. Giulia encara uma rotina muito diferente da de 1 ano e meio atrás, quando vivia com Theo em Nova York, às voltas com cursos de teatro e outras referências a respeito do modelo familiar tradicional. “Me sinto um pouco ET no Rio de Janeiro. Nova York foi muito libertador pra mim. Vi que a família lá é outra coisa. Às vezes é pai e mãe, às vezes só mãe e o filho. Percebi que a idéia de família grande, que sempre desejei, não precisa ser assim.”

Medo de ser esquecida

No embalo dos problemas no reduto doméstico, Giulia balançou no quesito auto-estima. Teve medo de ser esquecida: “A gente tem uma idéia de que é tudo tão imediato. Ainda mais quando você não é a coqueluche do momento”. Alô, Giulia! Quem vai se esquecer da revelação que estreou sob a batuta de um dos mais exigentes diretores de teatro do Brasil? Com Antunes Filho, Giulia virou Julieta aos 15 anos. Ficou três anos nessa vida, até ser fisgada pela Globo, onde virou figura de destaque em novelas que marcaram época: Mandala, Que Rei Sou Eu?, Fera Ferida, só para citar algumas. Na versão moderna da minissérie Dona Flor, inspirada no clássico de Jorge Amado, virou mulherão. Não foram poucos os homens a babar com sua morenice, exibida em modelos pra lá de vaporosos. Entre uma novela e outra, embarcou em montagens teatrais assinadas por Gerald Thomas e Zé Celso Martinez Corrêa.

Assim que se sentir pronta para entrar em cena de cabeça, Giulia tem vontade de se arriscar em outra praia: “Nunca fiz cinema, que considero um grande luxo”. Enquanto não entra em ação, ela segue em frente em seu atual papel favorito: o de mãe de Theo.

Tpm. Desde junho você está com a guarda provisória do Theo. Como está sendo retomar a rotina ao lado do seu filho?

Giulia Gam. Dei um tempo para me dedicar a ele,  para sentir como ele está. Acho que amor é disponibilidade. Não existe amor por telefone. Amar é estar junto, é pegar, tocar é tentar entender. Levo e busco o Theo na escola sempre. Também estou fazendo terapia, aula de voz, e tenho ido à academia, porque quero recuperar o tônus, a energia.

Tpm. Isso tem a ver com a sua volta à tevê [em episódios de Os Normais, Brava Gente e A Grande Família]? Você parece mais feliz...

Giulia. Estou mais confiante. Você vai levando uma, duas, três, quatro, cinco, seis, e aí fala: “Caramba, o que eu fiz?”. Não matei ninguém, não fiz nada contra ninguém. É claro que você sempre acha que a culpa é sua, que não sabe lidar com as dificuldades. Mas não tem esse fantasma: tenho talento, fui reconhecida na minha profissão, tive um filho lindo, tenho cultura, estudei em bons colégios, tenho amigos. Cheguei a achar que eu estava administrando isso mal, mas é só uma questão de entender as coisas e seguir em frente.

Tpm. A impressão é de que você voltou à cena madura, não parece mais aquela mocinha...

Giulia. Fiz uma universidade da vida nesses últimos anos [risos]. O fato de ter um filho já te dá uma outra visão de tudo, muda sua perspectiva. De uma hora para outra tive que lidar com um monte de coisa. A estrutura que eu acreditava acabou. Tive que me reconstruir.

Tpm. Inclusive profissionalmente? Você chegou a perder trabalhos na Globo por conta da briga na justiça com o Pedro [Bial]?

Giulia. A Globo é uma grande empresa. Nunca fui cobrada ideologicamente, acho que sou cobrada pelo meu trabalho lá dentro. Claro que já cheguei a imaginar alguma coisa, mas acho que a Globo não se meteria numa história dessas. Pelo contrário, senti um carinho que me surpreendeu, uma preocupação de saber como eu estava, de saber se eu já estava pronta ou não para trabalhar.

Tpm. Antes da sua volta à Globo você chegou a apresentar um programa sobre mães [o Mãe e Companhia, exibido pela GNT]. Como foi falar sobre o assunto enquanto você lutava pela guarda do seu filho?

Giulia. Foi muito legal. Fizemos um bloco no ano passado, talvez role outro este ano. É um programa para mães de primeira viagem. Percebi que os meus medos nem passavam pela cabeça das pessoas.

Tpm. Mas o que, afinal, aconteceu com você, o Pedro e o Theo?

Giulia. Não sei responde isso. Sempre achei que o Pedro fosse o homem da minha vida. A gente tinha muita cumplicidade. Como ele já tinha outros filhos, achei que tudo que eu não soubesse, aprenderia com ele. Ele me deu segurança. Fez com que eu tivesse vontade de ter um filho com ele. O olho do furacão eu não sei explicar. Não sei dizer: “Foi por causa disso ou daquilo”. Achei melhor parar de pensar nisso porque, enquanto eu tentava entender, estava deixando de viver. Talvez um dia eu entenda o que aconteceu, os porquês ou de quem é a culpa.

Tpm. Como foi a primeira vez que você se separou do seu filho?

Giulia. Fiquei catatônica, desesperada. Minha cabeça rodava e eu não sabia nem onde punha o pé. É uma coisa dilacerante. Não sei como descrever, mas é uma dor que vai do peito ao estômago. Nunca imaginei ficar longe do meu filho, não poder participar da vida dele. Isso tudo foi muito impressionante. Mas, uma vez que você entra no processo, tem todas as etapas burocráticas e a coisa acaba se arrastando. Agora estou feliz porque a guarda voltou para mim, mas o processo não está encerrado.

Tpm. É uma briga mesmo, né?

Giulia. É uma briga porque não há mais diálogo entre pai e mãe. É estranho. Aquela cumplicidade, aquela lealdade, aquela honestidade, a sinceridade de você viver em comum e decidir ter um filho acabam. É realmente estranho olhar para essa pessoa e não ter mais a menor idéia do que se passa no coração dela, né?

Tpm. Do que exatamente o Pedro te acusou para querer ficar com a guarda do Theo?

Giulia. Ele me acusou de não ter condições psicológicas para cuidar do Theo, mas isso eu não posso falar. Em processo fala-se tudo. Ele vai dizer que eu sou louca, o Felipe Camargo vai dizer que a Vera Fischer anda pelada pela casa e matando todo mundo, cada um fala as merdas que bem entende.

Tpm. E o que estava acontecendo de fato?

Giulia. Clinicamente nunca tive diagnóstico de nada. Não tinha o pânico clássico, mas acho que a ansiedade é quase um pânico. É quando você sente uma coisa que não é ligada ao real. A mão sua, você se sente insegura. Eu não sentia depressão. A sensação era que eu não estava dando conta de resolver tudo o que estava acontecendo. Sentia uma ansiedade de criar uma toca para essa criança, uma referência. Sentia tanta ansiedade que não sabia se ia comer ou andar. Fiquei assim quando tive que mudar para o Rio e, logo depois, ir para a França [acompanhar Pedro Bial na Copa do Mundo de 98]. Ali eu fiquei um pouco sem referência. Nesse período li muito sobre depressão, depressão pós-parto. Queria entender o que estava acontecendo, se era uma coisa química ou circunstancial. Se era normal ou se estava apavorada por ter de lidar com sentimentos diferentes.

Tpm. Nesse momento você achou que Pedro foi sacana com você?

Giulia. No sentido de deslealdade, sim. Ele até podia achar que eu não estava legal, mas pegou pesado. Não tinha sentido. Ele podia ter se interessado em ver qual era, chegar perto, podia até ter ido ao meu terapeuta. Podia ver se eu tinha condições ou não de cuidar do Theo. Mas não. Optou por uma coisa egoísta. Ele já disse que eu comprei a imprensa, a opinião pública [risos]. Ele faz Xerox das entrevistas que eu dou, diz que eu o agrido publicamente.

Tpm. Mas na época que vocês ficaram juntos ele era uma pessoa bacana?

Giulia. Eu tinha uma profunda admiração por ele, que era um correspondente internacional, viajava o mundo, vivia nas guerras, tinha essa lado de repórter do mundo. Gostava da audácia dele de estar nos lugares. Ele também era muito bom jornalista e poeta, e foi esse lado que me encantou.

Tpm. O que você acha de ele, que era seu ídolo no jornalismo, ter virado apresentador do Big Brother Brasil?

Giulia. Não acho nada... cada um sabe porque faz e o prazer que está tendo nisso. Posso dizer que conheci outro Pedro. Lembro que ele tinha prazer nas matérias de jornalismo, nos livros que escrevia, nas poesias que fazia. Não sei como está a vida dele hoje.

Tpm. Como vocês dois se conheceram?

Giulia. Ele me entrevistou no Globo Repórter na época em que eu vivia a Jocasta da novela Mandala. Isso foi em 87. A gente se reencontrou só 10 anos depois.

Tpm. Quando resolveram ficar juntos, quais eram suas expectativas com relação a ele?

Giulia. Eu nunca tinha me casado. Foi a primeira vez que morei junto com alguém. Era tudo muito novo pra mim e, por isso mesmo, encantador. Quando a relação desaba, você acha que não vai conseguir lidar com aquilo. Parece que você pode nadar, nadar, mas não vai alcançar. Hoje o que tiro disso tudo é que a gente é muito frágil. Ninguém tem nenhuma garantia de que vai passar por essa vida incólume, é tudo muito imprevisível.

Tpm. Você chegou a ser traída por ele?

Giulia. Que eu saiba, não. Quando ele teve outras relações, a gente já não estava mais junto.

Tpm. Quanto tempo durou o casamento?

Giulia. Foram uns três anos de junção total e mais uns dois nesse separa-não-separa,  viaja-não-viaja. Na verdade, acho que minha vida com ele foi uma embolada. Quando o Theo nasceu, mal tive tempo de criar referências pessoais no Rio [Giulia nasceu na Itália, mas cresceu em São Paulo], me senti muito sozinha, sem a minha família e meus amigos por perto.

Tpm. Hoje, qual é o balanço que você faz da sua história com ele?

Giulia. Foi uma grande desilusão. Ainda mais porque tinha a sensação de que, aos 30 anos, tinha conquistado coisas muito bacanas. Estava fazendo Dona Flor, casada com uma pessoa que amava, com quem tive um filho e mantinha projetos em comum. Foi duro quando tudo isso desandou.

Tpm. Vocês não se falam mais?

Giulia. Atualmente não.

Tpm. Mas nem quando, por exemplo, o Theo tem uma febre na casa do pai?

Giulia. [Fica com os olhos cheios de lágrimas] Quando meu filho vai para lá, não fico sabendo de nada.

Tpm. E você, faz diferente? Liga para o Pedro para contar que o Theo está doente, para falar de plano de saúde, médico, essas coisas?

Giulia. Só não faço mais isso porque percebi que estava abrindo a guarda, então tive que optar por também manter esse tipo de relação. Não é o que eu acho que deva ser, mas...

Tpm. O Theo comenta do irmãozinho [filho de Pedro Bial com a cineasta Isabel Diegues]?

Giulia. Não comenta nada. Eu também não especulo, acho que a pior pressão que tem para uma criança é quando ela é usada para resolver a raiva dos pais.

Tpm. Você acredita que um dia vai resolver sua situação com o Pedro?

Giulia. A relação com o Pedro, como homem e mulher, isso eu não sei. Não sei se um dia a gente vai conseguir conversar sobre isso... As mágoas estão aí, né? Não teria nenhum problema de conversar com ele, mas a coisa chegou num ponto que, enquanto não acabar esse litígio, prefiro não falar com ele, porque pode acabar em agressão.

Tpm. Se arrepende de alguma coisa que tenha dito ou feito?

Giulia. Hoje em dia, não. Acho que, quando você está sofrendo, sempre se questiona se deveria ter agido assim ou assado. Mas depois, quando tudo fica claro, as dúvidas vão embora. Não me arrependo do relacionamento com o Pedro. Você entra em um relacionamento porque quer. A gente pode não saber as conseqüências, mas só estive com alguém porque estava bom. Sinto uma tristeza, mas que não tem nada a ver com o Pedro, que é esse sonho que eu tinha de construir uma família. Deixei para ter filho mais tarde, para casar mais tarde, pensando que fosse para o resto da vida.

Tpm. Você ficou quanto tempo sem atuar durante essa fase complicada?

Giulia. Assim que o Theo nasceu fui para a França, porque o Pedro estava cobrindo a Copa do Mundo. No final de 1999, fui para Nova York. Fiquei lá um ano com o Theo e, quando voltei, já tinha o processo de guarda. Aí tem aquele estigma: “Poxa, o que será que ela fez?”. Quando cheguei ao Brasil, tive de dar entrevistas para falar de mim: como é que eu estava, como é que eu não estava, o que eu pensava. Ninguém tinha idéia do que tinha acontecido comigo. Sempre procurei não entrar em detalhes do que seriam as acusações. É pedido um sigilo porque tem uma criança envolvida. Mas não podia deixar de falar, afinal, é raro uma criança tão pequena ficar separada da mãe.

Tpm. O ano que você passou nos Estados Unidos foi um tempo de reflexão?

Giulia. Era um tempo que eu precisava para mim e para o meu filho. Tinha me separado, então não queria estar exposta à imprensa. Estava questionando tudo.

Tpm. Queria sair do burburinho...

Giulia. Eu não tinha casa no Rio. Minha casa em São Paulo estava reformando e, como sempre tive um apartamento em Nova York, achei que lá era um lugar meu. Quando você se separa, tem que refazer tudo. Lá era um lugar neutro nesse sentido.

Tpm. E o que você sentiu quando descobriu que ele tinha entrado na justiça [Pedro Bial oficializou o pedido para ficar com a guarda do filho em dezembro de 2000, quando Giulia ainda estava morando em Nova York]?

Giulia. Não entendi nada. Eu poderia ter entrado na justiça e definido a guarda antes. Podia ter formalizado a separação, mas sempre achei que ainda podíamos conversar. Para mim foi difícil perder o pai do Theo, a família, a cumplicidade. Era difícil chegar num advogado e formalizar tudo.

Tpm. Se o Pedro não tivesse entrado na justiça, você ainda estaria em Nova York?

Giulia. Lá era legal porque eu fazia aulas em teatros alternativos. Era bom que os professores não tinham a menor idéia de quem eu era. Aquela cidade é um barato porque, ficando um mês, dois ou três, você aprende, estuda, fica estimulada. Eu tinha que recriar uma vida com o meu filho, e poderia ser em qualquer lugar. Mas sempre me preocupei com o fato de o Theo crescer longe do pai. Queria muito que o Pedro tivesse ido para lá...

Tpm. Ele não foi?

Giulia. Não, ele não foi.

Tpm. Você chegava a ligar e falar: “Vem”, e ele falar: “Não vou”?

Giulia. Ele não podia. É claro que ele deve ter toda uma leitura sobre isso. Posso entender o lado dele e tal, mas naquele momento eu não entendia. Acho que lá a gene teria calma para conversar sobre as coisas, decidir melhor. Quando o Pedro resolveu tomar uma decisão ele resolveu tomar via justiça.

Tpm. E essa decisão te pegou de surpresa?

Giulia. Não sabia que ele já tinha entrado na justiça, o que ele me passava era que queria que eu desse um tempo aqui, no Brasil, para eu perder o medo de voltar, para eu ver que tinha amigos aqui, que eu era querida, para eu não ficar com medo de já ter sido esquecida.

Tpm. Você ficou frágil ao ponto de achar que seu público ia te esquecer?

Giulia. Fiquei. A gente tem uma idéia de que é tudo tão imediato, ainda mais quando você não é a coqueluche do momento. Aí você se vê com 35 anos, com filho, a sua cabeça já foi para um outro lugar, já deu uma volta, você já é uma pessoa diferente. E todas essas coisas: “A Giulia está triste ou não está?”. “O que aconteceu com a Giulia?”. Perguntas normais, muito menores do que eu imaginava. Tanto que, quando eu voltei, muitas pessoas nem sabiam o que estava acontecendo. Na minha cabeça era tudo muito grande, era como se o Brasil inteiro estivesse acompanhando meu drama. Acho que criei um certo fantasma.

Tpm. Com tantas coisas negativas passando pela sua cabeça, deu para tirar alguma coisa boa desse período de afastamento?

Giulia. Esse tempo que eu passei em Nova York foi bacana, porque voltei a ter interesse pelo teatro. Eu não estava trabalhando, não era “a atriz”, não tinha nenhum glamour. Mas foi um período de muita solidão.

Tpm. Logo que chegou de Nova York você disse, em algumas entrevistas, que a vivência lá fora fez com que o mito da família grande e feliz caísse para você. Como foi isso?

Giulia. Minha mãe é de Penápolis, interior de São Paulo. Sou filha única, então era lá no interior, na casa da minha avó, que tinha essa coisa dos almoços de domingo, de Natal. Essa coisa de família grande, de muitos filhos, de muitos irmãos, de avô, de avó. Quando tive meu filho, foi difícil porque não tinha irmãos, tias ou primos. Não tinha aquele núcleo familiar gostoso. Me senti um pouco ET no Rio de Janeiro. E aí Nova York foi muito libertador pra mim. A família lá é outra coisa. Às vezes é pai e mãe, às vezes só a mãe e o filho, às vezes só o pai e o filho. Percebi que a idéia de família grande e casa cheia, uma coisa que eu sempre desejei e achei bonito, não precisa ser assim. Vi que eu não era uma exceção, que dava para ser feliz tendo outro tipo de família.

Tpm. Para quem você liga quando está mal?

Giulia. Me sinto um pouco sozinha aqui no Rio. Esse ano percebi que minhas amigas do meio artístico trabalham mais e têm suas famílias, que são a Débora Bloch, a Fernanda Torres, a Júlia Lemertz, a Andrea Beltrão. Tanto que procurei sair um pouco do meio da Globo, porque o Rio e a Globo eram muito misturados na minha cabeça. Fiz questão de conhecer pessoas de outras profissões, as mães dos amigos do Theo.

Tpm. Qual é a prioridade na sua vida agora?

Giulia. Ficar disponível para o Theo. Cuidar de mim, da minha cabeça e da minha emoção. Quero estabelecer vínculos aqui no Rio, ter uma base estruturada, verdadeira. Quero cuidar do meu corpo. Depois, quero trabalhar com cinema. Acho cinema um grande luxo.

Tpm. Você tem vontade de conhecer alguém, de namorar, casar, enfim, tudo de novo?

Giulia. Acho que essa é uma das coisas mais difíceis para a mulher, ainda mais para a mãe com filho pequeno. Como o filho é muito ligado ao pai, você não imagina um outro homem entrando naquela relação. Ainda é complicado para mim pensar em um outro homem, pensar na possibilidade de meu filho ter contato com um homem que não seja o pai dele.

Tpm. Mas você não namorou mais ninguém desde que se separou do Pedro?

Giulia. Sim, namorei, mas nunca expus meu filho a nenhuma relação. Agora estou namorando uma pessoa muito bacana, o Vinícius Viana, que escreveu [o livro] Dedé Mamata, e atualmente escreve novelas.

Tpm. Você não deixa ele brincar com o Theo?

Giulia. Deixo, mas não forço a barra, não imponho uma pessoa a ele. Graças a Deus, todas as pessoas com as quais eu me relacionei foram muito legais nesse sentido. O importante é que a criança não se sinta mais ameaçada por aquela figura. O Theo já está passando por tanta coisa, que eu não quero que ele tenha mais uma adaptação, mais uma novidade na vida dele.

Tpm. Tem medo de perdê-lo de novo?

Giulia. Eu não me acostumei a tê-lo ainda. Fica sempre um medo. Eu estou muito feliz, respirando, desfrutando. Não estou brigando por mim. Não sou eu que quero estar com meu filho acima de qualquer coisa. Se realmente sentisse que não daria conta, seria a primeira a admitir. A mãe não tem oposição quando reconhece que ela não está legal.

Fonte: Revista TPM

Arquivo Pessoal: Bia*

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