Série ‘O Primo Basílio’, de 1988, chega ao DVD

01/12/2007 23:45

Roteiro aproveita exuberância descritiva do autor português ao criar cenários

A minissérie “O Primo Basílio” (1988), recém-lançada em DVD, foi um grande sucesso na TV, quase 10 anos atrás. O romance de 1878 de Eça de Queiroz rendeu uma ótima adaptação, dirigida por Daniel Filho.

Não é para menos: a história do amor adúltero de Luísa, casada com o enfadonho Jorge, pelo primo estróina tem todos os elementos caros à teledramaturgia.

Um tanto de escândalo da ordem burguesa e o fato de a criada Juliana descobrir o adultério e chantagear a moça, configuram uma rede de acontecimentos e intrigas que se prestam bem à ficção seriada.

Os roteiristas Gilberto Braga e Leonor Básseres aproveitaram bem a exuberância descritiva do escritor ao recriar ambientes sociais e personagens.

Embora a fidelidade ao texto original não seja nem a única nem a mais agradável virtude para a TV, muitas vezes ela é preferível à facilitação que tenta tornar o texto mais palatável ou mais próximo do espectador moderno. Neste “Primo Basílio”,  ao contrário, o trabalho de adaptação dá um ritmo televisivo ao romance, sem sacrificar a complexidade da trama.

O grande trunfo da minissérie, entretanto, foi uma certa inflexão contemporânea na construção da personagem Juliana, para a qual contribuiu muito, e muito, a interpretação excepcional de Marília Pêra. Sua Juliana, amarga de cobiça e inveja, fica numa linha fina da caricatura. – justamente para contrastar com a lassidão de espírito que vai tomando conta de Luísa –, mas nunca resvala para a paródia. Ao contrário, adquire uma dimensão ambígua.

Marília Pêra brilha mais, mas não sozinha, Giulia Gam, como Luísa, leva a personagem da menina leviana à mulher atormentada com segurança. Tony Ramos, preciso e consistente, faz um Jorge quase trágico.

Uma curiosidade: à época em que foi exibida a minissérie, causou um certo frisson uma cena em que Luísa atinge o orgasmo com sexo oral. Hoje, a cena parece estranhamente lírica e, de certa forma, inocente.

Fonte: Folha de São Paulo